terça-feira, 11 de dezembro de 2007

EVOLUÇÃO E EVANGELHO

Evolução e Evangelho


Pietro Ubaldi

A dor é que acorda o instinto de vida, que adormece no bem-estar. Os climas doces e cálidos não criam homens fortes e lutadores como os que são filhos de climas ásperos e duros. As desventuras e a necessidade da luta ensinam coisas que só aqueles que lhes estão sujeitos podem aprender. A vida jamais se resigna a morrer, e muitas vezes, em vez de matá-la, as muitas dificuldades a fazem forte e sábia, quando isto é indispensável para sobreviver os obstáculos são duros de superar, mas os que aprenderam a superá-los possuem um conhecimento e uma força para sua defesa, todavia os que encontraram a vida fácil estão bem longe de possuir essa força. Nas mãos da vida sábia tudo se resolve em construção e progresso. Quando a evolução não se realiza pela alegria de progredir, a vida a realiza com o chicote da dor, para que se cumpra, de qualquer forma, o progresso, que é o maior bem para o ser.

As atitudes que o indivíduo assume diante das dificuldades, variam para cada pessoa. Mas o ressentir-se diante da dor produz um efeito mais ou menos comum a todos, que é o de pôr a nu e revelar a verdadeira natureza do indivíduo. Ele é reconhecido pelo seu tipo de reação, porque parece que, colocado diante das mais profundas realidades da vida como a dor e a morte, o ser não sabe mais mentir. Ora, o que dirige a reação e lhe define a forma, é a natureza do biotipo. É lógico que a reação não pode criar um ser novo, mas apenas mostrar-nos quem é ele verdadeiramente, na hora em que se veja constrangido a usar todos os seus recursos, a qualquer custo. É lógico que o ponto de partida do novo passo adiante não pode ser dado, senão como valor e qualidade, a partir da posição precedente do ser. Teremos assim uma reação e um esforço proporcionados a essa posição. Assim, o biótipo inferior reagirá como inferior, o mais evoluído, como evoluído, do forma mais elevada. Assim, diante de uma dor desesperada, quem não possui nenhum recurso nem no bem, nem no mal, se abandonará nas tenazes da correnteza até à morte, aprendendo o pouco que pode da lição. Quem tem tendência á mentira e ao mal, reage com a traição e o crime, vingando-se do próximo e involuindo cada vez mais para baixo, porque é baixa a natureza do indivíduo. Quem é violento e não está habituado ao controle, pode reagir com o suicídio. Quem possui tendência para os gozos inferiores, reagirá com excessos e vícios procurando esquecer, naquelas efêmeras alegrias em que ele acredita, as próprias dores. Mas existem também os que reagem com a santidade, com o amor operante para o bem do próximo. Esta é a reação dos fortes e dos grandes.

As adversidades e a insatisfação da vida podem excitar diversas revoltas. Dessas reações é que nascerão muitos santos. Quantas vezes o santo é um rebelde que não quer adaptar-se a aceitar as condições do ambiente; é um revoltado que explode, criando, com sua revolução, novos conceitos de vida. Mas o grande valor de sua reação está justamente no fato de que ela é dirigida para o bem, no sentido construtivo: é uma revolta para subir, e não para descer. Eis o que pode ocorrer quando, no indivíduo, existe o estofo do ser superior. Mas se este não existe, não há dor, por mais desesperada, que possa improvisar esse tipo de homem. Se bastasse a dor para criar um santo, o mundo, que está cheio de dores, deveria estar cheio de santos. Vemos, ao contrário manifestarem-se reações bem diferentes.

A vida é um recipiente que, em si mesmo, vale pouco. Tudo depende do valor do conteúdo que lhe derramamos dentro. Podemos colocar dentro dela o que quisermos. Se pusermos coisas nobres e grandes, a vida se tornará um escrínio precioso. Se dentro lhe colocarmos podridão, tornar-se-á uma caixa de imundícies. A vida é uma estrada feita para caminhar, é um meio para atingir um objetivo. Se a fizermos fim de si mesma, se, por querer-nos conservar demais, não quisermos caminhar e renovar-nos, deteremos o movimento da vida e o mataremos. Então, tudo terá caminhado menos nós, e permaneceremos atrás.

Então, teremos vivido no vazio, e poderão escrever em nosso túmulo: "tempo perdido".


A grandeza da vida consiste em fazer dela um meio para transformar o mal em bem, fazendo de um inimigo que nos atormenta, como é a dor, um mestre amigo que nos ensina; de uma condenação medrosa, uma escola para aprender. Ora, a vida está cheia de sofrimentos e insatisfações, aptas a provocar nossa reação. O segredo da sabedoria está no saber reagir. A solução do problema está na forma que nossa reação assumir. A vida nos espicaça com esses estimulantes, que esfolam a chaga e põem a nu a carne viva. A operação é dura, mas e para nosso bem, porque somente depois da raspagem e da limpeza com a podridão removida, a carne nova e sã crescendo, pode cicatrizar a chaga. Assim, diante da dor deveremos ter muito mais do que a simples paciência passiva e cega do burro chicoteado: devemos ter a inteligência iluminada e a bondade operante, de quem compreendeu o mecanismo da dor e quer tirar dela toda a vantagem possível, colaborando com a inteligência da vida, que no-la manda para nosso bem. O sistema usado por alguns, de revoltar-se contra a dor, sofrendo-o com a alma envenenada, não resolve o problema, não melhora, mas piora nossas condições. Quanto mais nos agitarmos com o nó do enforcado à garganta, mais esse nó se apertará. A posição de maior vantagem e de menor prejuízo em relação à dor, é a de aceitá-la, não passivamente, mas para pôr-nos a seu lado construtivamente, com ela colaborando para nosso benefício.

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