terça-feira, 15 de março de 2011

SÉRIE CIÊNCIA...

Fenômenos espíritas e suas consequências filosóficas
Cairbar Schutel


Publicado na RIE em julho de 1934/O Clarim

Os fatos espíritas manifestam-se, hoje, em toda a parte; eles constituem uma voz que parte de todos os pontos do globo e repercute, de quebrada em quebrada, despertando o homem da letargia e animando-o a marchar, desassombradamente, pela estrada da espiritualidade que conduz à Vida Eterna. Pode-se dizer que não há uma só cidade do mundo, uma só aldeia, ainda nos mais longínquos recantos do planeta, em que manifestações extraordinárias não sejam verificadas, com a admiração de uns, e má vontade e repulsa de outros. Nos meios humildes, como na alta sociedade, nas zonas científicas, como entre os elementos clericais, os fenômenos espíritas de caráter ostensivo se constituíram a grande luz que vem iluminar aos homens o porto de salvamento. Não há uma só família que não conte um fato “extranormal” com ela ocorrido.
Isso vem nos provar que os fenômenos espíritas têm um caráter verdadeiramente providencial. E nem de outro modo pode-se ver esses fatos ostensivos, espontâneos, independentes de toda a vontade humana e de todos os poderes terrestres, fatos, digamos de passagem, que assinalam uma inteligência superior às inteligências da terra, cheia de previsão, de concisão e altamente científica.
Quem ler com atenção os relatos das sessões de materializações, de moldagens, de apports, de fotografias, testemunhadas por homens como William Crookes, Russel Wa-llace, Oliver Lodge, Paul Gibier, César Lombroso, Ernesto Bozzano e centenas de outros sábios de responsabilidade moral e científica, não pode negar o grande valor moral e científico dessas manifestações, fenômenos tão transcendentes que todos esses sábios unidos – físicos, químicos, fisiologistas, anatomistas, etc., são incapazes de os reproduzir em sua mínima parte.
Em vista disso, poderão esses fatos serem recebidos como ocorrências simplesmente anormais, sem uma causa-mestre que tem intuitos superiores, determinativos a um fim moral e de alta relevância espiritual?


Materialização de katie king

Certamente não se pode concluir que um efeito inteligente deixe de ter, a seu turno, uma causa inteligente e um intuito qualquer, digno da nossa observação, do nosso estudo e da nossa meditação. Todos os fenômenos da vida intelectual, ainda os mais rudimentares, têm uma causa e um objetivo, como verificamos na vida dos seres que povoam o nosso mundo. Não se acende uma luz sem que um fator não se mova, um intermediário não apareça e não se veja o fim a que aquela luz se destina.
A fenomenologia espírita, verificada em todas as épocas e em todos os países, por todas as gerações que viveram neste mundo, tem sido, em todos os tempos, o princípio básico da fé que dignifica o ser humano.
Antigamente, devido à deficiência da inteligência para julgar as coisas espirituais, ela foi atirada para a classe das coisas sobrenaturais, e os “espertos” que tomaram a si a missão de guiar os homens guardaram-na na “urna dos milagres” para, mais comodamente, manterem o seu domínio sobre as massas.
Os filósofos e os sábios, adstritos a uma psicologia retardatária que havia cristalizado todos os seus métodos de ensino, não puderam compreender o alcance desses fatos que só eram recebidos, religiosamente, pelos filhos do povo.
Percorrendo a obra dos estudos fisiológicos, embora desde tempos idos os fenômenos psíquicos tivessem larga extensão, ficamos na obscuridade sobre a existência ou não existência da alma, o que prova que a antiga psicologia não fornecia aos sábios de então os elementos precisos para a resolução do maior de todos os problemas que deve resolver a sorte do destino humano.



As Mesas Girantes

Foi preciso que novas mentalidades viessem desbravar o campo do Animismo, forçando, depois, as barreiras do sobrenatural e do mistério, para que a luz raiasse nos horizontes, e um novo método de estudo desse criação à Psicologia Experimental, que estendeu a sua área às regiões inexploradas da alma humana, nesta fase da vida, alongando a sua ação ao mundo ultrassensível que nos rodeia e para onde teremos que ir.
E, desse estudo experimental, chegou-se à conclusão dos intuitos morais e científicos dos fenômenos psíquicos, base fundamental do Ani-mismo e do Espiritismo, que se acham em íntima ligação com todas as ciências, dando-lhes um cunho superior de progresso, completando-as com as novas verdades que vêm tirá-las das dificuldades em que se acham, para resolverem certos problemas, cuja obscuridade veda a sua ação progressiva na perfeição das gentes, na evolução de todos os conhecimentos que devem constituir e proporcionar o bem-estar dos povos. Oferecendo a todos as insígnias inconfundíveis da alta Moral Cristã, com todos os En-sinos filosóficos do seu Instituidor, os fenômenos espíritas, parte integrante da Revelação sobre a qual Jesus disse haver fundado a sua Igreja, são, de fato, as demonstrações claras, legíveis e palpáveis da Imortalidade, única base verdadeira da Fé, do Amor e da Sabedoria.
Sem os fatos, não há religião, nem ciência que possa prevalecer. À química se pede reações; à matemática, números; à física, leis de equilíbrio. Para merecer o nome de ciência, é preciso que se demonstre esta ou aquela com provas positivas.
Os fenômenos psíquicos, não há, absolutamente, dúvida, trazem à destra a luz que ilumina e a verdade que salva. Só por eles, podemo-nos convencer da sobrevivência espiritual, ou seja, da sobrevivência individual e, consequentemente, dos nossos deveres para com os nossos semelhantes e para com Deus.
As consequências filosóficas dos fatos espíritas trazem-nos, como contribuição de progresso e bem-estar, leis olvidadas pelos homens e destinadas a estabelecerem na Terra o reinado da Fraternidade, sob a Pa-ternidade de Deus.
Não queiram os nossos adversários transviar os objetivos da Feno-menologia Espírita, atribuindo-lhes teorias malsãs que não se coadunam com os seus fatos. Lembre-se bem de que todas as teorias aventadas para darem explicações dos fenômenos caíram por terra por insustentáveis.


Médium Peixotinho doando ectoplasma para Materialização

“Os fatos são persistentes” – como disse o Prof. Lombroso e, em face dos fatos, o investigador perspicaz e inteligente há de verificá-los de natureza anímica e de natureza espírita, mas, sejam uns ou sejam outros, nenhuma explicação eles podem ter, sem a existência da alma e sua sobrevivência à morte do corpo carnal. Essa é a verdade que ninguém, com bons fundamentos, ousará contestar.

terça-feira, 8 de março de 2011

SERIE PRA PENSAR

CHICO XAVIER NA SAPUCAÍ JAMAIS PODERÁ SER UM ENREDO DA RAZÃO

Sem querer ser “fiscal do Espiritismo” (como costumam dizer os espíritas “bonzinhos de carteira funcional e crachá”) e ditar regras de falsos purismos e extemporâneos sermões embebidos de ladainhas, não nos omitiremos em comentar a reportagem veiculada pelo jornal O Globo, assinada pelo repórter Rafael Galdo, noticiando que a escola de samba Unidos do Viradouro trará, neste ano de 2011, um carro alegórico contendo a imagem do Francisco Cândido Xavier. Tal iniciativa é para fugir do convencional, a fim de voltar ao Grupo Especial, consoante afirma o carnavalesco Jack Vasconcelos. Nesse projeto que homenageia Momo, uma das apostas da escola de samba é um setor inteiro, no fim do desfile, dedicado ao “espiritismo”(!?). No enredo “Quem sou eu sem você”, Jack fará, no último carro, uma homenagem ao Médium de Pedro Leopoldo. Chico será representado por uma escultura (em que aparecerá psicografando) cercada por 60 componentes, alguns deles “espíritas”(!?), que farão uma performance de “mediunidade” (!?). Todo espírita estudioso sabe que nenhum espírito[a] equilibrado, em face do bom senso que deve presidir a existência das criaturas, pode fazer a apologia da loucura generalizada, que adormece as consciências, nas festas carnavalescas. (1) Por essa razão, consterna-nos o fato de ver ligado a festas profanas o tema “Espiritismo”, assim como a personalidade impoluta de Chico Xavier. A dita matéria afirma que a diretoria da Federação Espírita Brasileira estaria de acordo com tal projeto, desde que nenhum “preceito do espiritismo seja desrespeitado na apresentação da vermelho e branca”. A diretoria da FEB através do seu Portal na Internet “declara que respeita o direito de todos os que, no uso de sua liberdade de ação, agem no mesmo sentido de colocar a mensagem consoladora e esclarecedora dos ensinos espíritas ao alcance e a serviço de todas as pessoas, onde elas se encontrem, orientando, todavia, para que esse trabalho seja sempre feito preservando os seus valores éticos e doutrinários.”
Esse comportamento light, estilo “lava as mãos” é desconsertante.
Divulgar a Doutrina Espírita é um ato de caridade para com ela, entretanto, divulgá-la através desse meio não se “preserva os seus valores éticos e doutrinários” e é, sem dúvida, deturpá-la em suas bases, causando incalculáveis prejuízos morais, com grande responsabilidade vinculada. Não há como compreender a "neutralidade" da diretoria da FEB, até porque há incompatibilidade total e absoluta entre os objetivos do folguedo momesco e os postulados da Doutrina dos Espíritos. A origem do carnaval remonta as teias primitivas de um passado remoto que devemos, por impulso evolutivo, abandonar urgentemente. O termo carnaval é oriundo de uma festa romana e egípcia em homenagem ao Deus Saturno, quando carros alegóricos (a cavalo) desfilavam com homens e mulheres. Eram os carrum navalis, daí a origem da palavra "carnaval". Há quem interprete a palavra conforme as primeiras sílabas das palavras da frase: carne nada vale. Como festa popular, poderia ser um acontecimento cultural plausível, não fossem os excessos cometidos em nome da alegria.
Acompanhar a espetacularização da imagem de Chico Xavier, de André Luiz e de tantos outros irmãos queridos nossos, que tanto contribuíram e contribuem com seus ensinamentos sublimes, aliadas a uma festa que é a própria apologia às piores viciações do ser humano, é o que podemos chamar de cúmulo do paradoxo entre a teoria e a prática Espírita. Por essas razões, recomenda o Espírito André Luiz para "afastar-nos de festas lamentáveis, como aquelas que assinalam a passagem do carnaval, inclusive as que se destaquem pelos excessos de gula, desregramento ou manifestações exteriores espetaculares, pois a verdadeira alegria não foge da temperança.” (2)
Estudos demonstram que durante os delírios e farras dos carnavalescos, para cada 100 casais que caem juntos na folia, setenta terminam a noite brigados (cenas de ciúme etc.); que, desses mesmos 100 casais, posteriormente, sessenta sucumbem ao adultério, cabendo uma média de trinta para os homens e trinta para as mulheres ; que, de cada 100 pessoas (homens e mulheres indistintamente) no carnaval, pelo menos setenta se submetem espontaneamente a coisas que normalmente abominam no seu dia a dia, como álcool, entorpecentes etc. Dizem ainda que tudo isso decorre do êxtase atingido na “grande festa”, quando o símbolo da “liberdade” e da “igualdade”, mas também da orgia e depravação, somadas ao abuso do álcool, levam as pessoas a se comportarem fora do seu normal. O Espírito Emmanuel adverte: "Ao lado dos mascarados da pseudo-alegria, passam os leprosos, os cegos, as crianças abandonadas, as mães aflitas e sofredoras. (...) Enquanto há miseráveis que estendem as mãos súplices, cheios de necessidades e de fome, sobram as fartas contribuições para que os salões se enfeitem." (3)
Na ribalta dos carros alegóricos, os obsessores "influenciam os incautos que se deixam arrastar pelas paixões de Momo, impelindo-os a excessos lamentáveis, comuns por essa época do ano, e através dos quais eles próprios, os Espíritos, se locupletam de todos os gozas e desmandos materiais, valendo-se, para tanto, das vibrações viciadas e contaminadas de impurezas dos mesmos adeptos de Momo, aos quais se agarram." (4)
"É lamentável que na época atual, quando os conhecimentos novos felicitam a mentalidade humana, fornecendo-lhe a chave maravilhosa dos seus elevados destinos, descerrando-lhe as belezas e os objetivos sagrados da Vida, se verifiquem excessos dessa natureza [CARNAVAL] entre as sociedades que se pavoneiam com os títulos da civilização.” (5) Os foliões inveterados alegam que o carnaval é um extravasador de tensões, liberando as energias (?!) Ora!... transbordador de tensões é a capacidade de se arregaçar as mangas e colaborar em regime permanente (sem ôba-ôba) na recuperação das vítimas das cidades serranas do Rio de Janeiro, destroçadas pelas chuvas recentes). É verdade! No período carnavalesco, não encontramos diminuídas as taxas de agressividade e as neuroses. O que se vê é um verdadeiro somatório da violência urbana e de infelicidade familiar. As estatísticas registram como consequências do "reinado de Momo", por exemplo, gravidezes indesejadas e a consequente proliferação de abortos provocados, acidentes automobilísticos, aumento da criminalidade, estupros, suicídios, incremento do uso de diversas substâncias estupefacientes e de alcoólicos, assim como o surgimento de novos viciados, disseminação das doenças sexualmente transmissíveis (inclusive a AIDS) e as ulcerações morais, marcando profundamente certas almas desavisadas e imprevidentes.
Os três dias de folia, assim, poderão se transformar em três séculos de penosas reparações. É bom pensarmos um pouco nisto: o que o carnaval traz ao nosso Espírito? Alegria? Divertimento? Cultura? Será que o apelo de Momo faz de nós homens ou mulheres melhores? Edifica o nosso Espírito? Muitos espíritas, ingenuamente, julgam que a participação nas festas de Carnaval, tão do agrado dos brasileiros, nenhum mal acarreta à nossa integridade fisiopsicoespiritual. No entanto, por detrás da aparente alegria e transitória felicidade, revela-se o verdadeiro atraso espiritual em que ainda vivemos pela explosão de animalidade que ainda impera em nosso ser. É importante lembrá-los de que há muitas outras formas de diversão, recreação ou entretenimento disponíveis ao homem contemporâneo, alguns verdadeiros meios de alegria salutar e aprimoramento (individual e coletivo) para nossa escolha.
Não vemos, por fim, outro caminho que não seja o da "abstinência sincera dos folguedos", do controle das sensações e dos instintos, da canalização das energias, empregando o tempo de feriado do carnaval para a descoberta de si mesmo, o entrosamento com os familiares, o aprendizado através de livros e filmes instrutivos ou pela frequência a reuniões espíritas, eventos educacionais, culturais ou mesmo o descanso, já que o ritmo frenético do dia-a-dia exige, cada vez mais, preparo e estrutura físico-psicológicos para os embates pela sobrevivência.
Em síntese, se o carnaval é uma ameaça ao bem-estar social, nós espíritas temos muito a ver com ele, porque uma das tarefas primordiais de nossa Doutrina é a de lutar por dispositivos de preservação dos valores mais dignos da sociedade, sem que se violente, obviamente, o direito soberano do livre-arbítrio de cada um, mas não nos esquecendo que no carnaval sempre ocorre obsessão (espiritual) como resultado da invigilância e dos desvios morais. Somente poderemos garantir a vitória do Espírito sobre a matéria se fortalecermos a nossa fé, renovando-nos mentalmente, praticando o bem nos moldes dos códigos evangélicos, propostos por Jesus Cristo e não esquecendo os divinos conselhos do Mestre: "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito na verdade está pronto, mas a carne é fraca''.(6)

Jorge Hessen
http://jorgehessen.net

Referências bibliográficas:

(1) Xavier , Francisco Cândido. Sobre o Carnaval, mensagem ditada pelo Espírito Emmanuel, fonte: Revista Reformador, Publicação da FEB fevereiro/1987
(2) Vieira, Waldo. Conduta Espírita, ditado pelo Espirito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001, cap.37 "Perante As Fórmulas Sociais"
(3) Xavier , Francisco Cândido. Sobre o Carnaval, mensagem ditada pelo Espírito Emmanuel, fonte: Revista Reformador, Publicação da FEB fevereiro/1987
(4) Pereira, Ivone. Devassando o Invisível, Rio de Janeiro: cap. V, edição da FEB, 1998
(5) Pereira, Ivone. Devassando o Invisível, Rio de Janeiro: cap. V, edição da FEB, 1998
(6) Mt 26:41