quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

PARA PENSAR...

Para (re) construir uma Vida de Relação baseada na Ética da Compaixão


Ao começar a releitura de um livro extraordinário de Sua Santidade , o Dalai Lama intitulado “Uma Ética para o Novo Milênio”, pude observar as inúmeras possibilidades que temos em nós de pensarmos na (re) construção das nossas relações em valores baseados essencialmente no cultivo do amor e da compaixão.Entretanto , ao primeiro olhar , podemos imaginar que nos dias atuais , é quase impraticável considerar a possibilidade de participar e compartilhar as nossas questões até com os nossos mais íntimos amigos. Há por toda a parte um total clima de desconfiança entre as pessoas ,o que acaba por gerar suspeita em todas as nossas relações mais básicas.Mas, se nos esforçamos e passamos a acreditar na possibilidade da melhora e da transformação , podemos investir aos poucos no enriquecimento da qualidade da nossa vida e , devagar , seremos capazes de (re) começar o nosso caminho de relação.Aos poucos , experimentaremos , a possibilidade real de compartilhar e dividir alegria e felicidade ,dor e sofrimento. Em princípio, pode não parecer muito fácil – e não é mesmo , porque teremos que resgatar em nós alguns valores e sentimentos que fazemos absoluta questão de esconder.Normalmente , a nossa convivência é pautada pelas relações que estabelecemos ao longo das nossas vidas . Em cada uma dessas situações podemos constituir vínculos que nos ligam a outras pessoas para o resto das nossas vidas . Aí é que se firmam alguns graus de amizade ou até de uma relação mais íntima que pode caminhar para um convívio mais estreito , diário e doméstico. É muito comum dedicarmos aos nossos amigos o que temos de melhor.E sendo assim , compartilhamos todo tipo de sentimento com esses escolhidos – às vezes ,até com certa dificuldade , mas tentamos repartir todas as nossas emoções com um grau até muitas vezes elevado demais de confiança.
Como conseqüência, ganhamos a certeza da amizade e reforçamos cada vez mais os laços que nos ligam a esses amigos de forma incondicional e indiscriminada.Mas aí é que começo a levantar algumas questões. A primeira delas diz respeito à natureza dessa relação e os seus naturais desdobramentos . Será que não é muito fácil lidar apenas com quem confiamos e convivemos? Será que pode ser diferentes?Será que só temos que demonstrar afeto , carinho ou amizade exclusivamente aos nossos melhores amigos? Se somos criaturas em constante processo de melhora e transformação e precisamos buscar um caminho de mudança , porque não nos abrimos para novas situações de convivência? Será que só é importante o cultivo do amor e da compaixão entre os que convivem conosco , familiares e amigos mais íntimos? Penso que assim é muito fácil.Acredito que a nossa grande meta deve ser à busca do cultivo do amor e da compaixão incondicional e universal . A nossa meta permanente deve ser à busca da afirmação de uma cultura de fraternidade entre todos nós – desde os nossos amigos até aos que chamamos de inimigos.É claro que essa idéia – que pode se transformar em ação , depende fundamentalmente de nós e está diretamente relacionada com a nossa possibilidade de (re) estabelecer um caminho crescente de conquista interna para ser compartilhado com todos que nos cercam . Entretanto , é ai é que está a nossa grande tarefa . Essa experiência será inicialmente vivida por nós de maneira distinta.A minha idéia é a de fortalecer os vínculos mais íntimos de amizade e relação já existentes e , aos poucos, provar novas situações de relação e convívio com os nossos desafetos aonde poderemos demonstrar mais empatia , mais paciência e mais tolerância na (re) condução das nossas amizades e criar permanentemente em nós um sentimento de familiaridade para ser repartido com todos que se aproximarem do nosso convívio.
Assim , aos poucos poderemos estabelecer uma nova possibilidade de convivência entre todos que nos cercam e nos buscam , baseada na compaixão, na empatia , na igualdade e no respeito fundamental à diferença.Contudo , tenho claro que esse não é um programa de vida muito fácil. Pelo contrário , acredito que é um projeto pra ser construído durante toda(s) a(s) nossa(s) vida(s).São os estágios que estamos experimentando para o nosso desenvolvimento espiritual.E, nessa condição de aprendizes , estamos (re)vivendo todos os dias as nossas oportunidades de melhora e transformação.E, só depende de nós , cultivarmos nas nossas relações , os nossos melhores sentimentos – com todos os seres que nos cercam , inclusive com os que podem nos ferir .
A nossa (re) tomada de consciência deve priorizar o aperfeiçoamento das nossas mais íntimas emoções.Acredito firmemente que o caminho para a nossa transformação está fundamentado na nossa conduta diária e cotidiana.Se estivermos desenvolvendo o nosso potencial de maneira estável e continua, poderemos nos transformar em sujeitos mais compassivos e mais generosos , não só com os mais próximos e amigos , mas também com os mais afastados , os mais necessitados e os mais desprovidos . Assim , estaremos experimentando a nossa possibilidade de superação da parcialidade e poderemos (re) conhecer em nós a capacidade de resgatar a afeição, o perdão, a bondade , a compaixão e o amor nas nossas relações , e entender que nenhum desses sentimentos são artigos de luxo , sendo responsáveis por nos levar naturalmente a uma conduta mais respeitosa e ética na(s) nossa(s) vida(s).

Marco Aurélio Faria Rezende

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

SOBRE O FUTURO...

O que o futuro nos reserva
Jomar Morais

Uma das características marcantes de nossa época é a velocidade fantástica em que se produzem conhecimentos e tecnologias capazes de mudar profundamente todos setores da civilização. Na tradição judaico-cristã, e acostumamo-nos a conviver com profecias que, não raro, apontavam para um "fim de mundo" ou um dos tempos" ao mesmo tempo espetacular e catastrófico, coisa que ao longo dos séculos atemorizou tantas mentes e deu margem a tantas fantasias. Ao observarmos o cenário da Terra, neste final de milênio, no entanto, constatamos a enorme distancia a que estacionaram da realidade dos dias atuais os profetas apocalípticos ou os seus muitos intérpretes. Ficaram para trás também os exercícios de ficção da era moderna e muitas projeções apoiadas em cálculos científicos que pareciam tão seguras e infalíveis.

Sim, num mundo onde apenas 50 anos - os últimos 50 anos - acumulou-se mais conhecimentos do que em toda a trajetória do homem na Terra, anunciar o que estar por acontecer tornou-se algo cada vez mais difícil e temeroso. Grandes empresas americanas, por exemplo, gastam anualmente cerca de 200 bilhões de dólares com consultores e analistas, inclusive físicos e matemáticos convocados a obter dos computadores uma imagem, ainda que pálida do porvir. Tudo o que conseguiram, até agora, foram alguns acertos pífios e vários erros monumentais. Como o velho paradigma newtoniano-cartesiano, mecanicista, já não funciona 100%
quando aplicado aos sistemas complexos da atualidade, parece claro que o futuro deixou de ser uma simples extrapolação do passado. Apesar disso, decifrar o amanhã ou, no mínimo, preparar-se para atuar em um mundo sob o signo da mutação tornou-se detalhe fundamental tanto na área dos negócios quanto em outros campos de atividade, inclusive o da religião.

Não poderia ser diferente com o Espiritismo. Quais as possibilidades do movimento espírita em meio ao processo de globalização? O que nós, espíritas, podemos ou devemos fazer para assegurar a continuidade da divulgação doutrinária, em condições de fidelidade aos propósitos do Cristo e da Espiritualidade Superior? Como o Espiritismo pode contribuir para levedar a massa das grandes mudanças com o fermento do Evangelho, a fim de que entremos em uma era de transformação moral? São perguntas que nos fazemos, às vezes perplexos, diante dos novos desafios.

Obviamente não disponho de respostas definitivas para questões tio importantes em face da conjuntura mundial. Atrevo-me, porém, a apresentar algumas reflexões nesse sentido, para o que se faz necessário tecer, antes, rápidas considerações sobre a globalização e sua compatibilidade com o ideal evangélico e com a Doutrina dos Espíritos.

Novos paradigmas - Convencionou-se chamar de globalização ao processo econômico de ampliação de mercados, com integração produtiva e circulação global de capitais. Isso é muito pouco. A globalização abrange também a padronização de uma série de atitudes e comportamentos em escala mundial e a intensificação das relações sociais num ambiente em que acontecimentos locais são modelados e alterados por eventos globais e vice-versa.
Vários fatores contribuíram para o surgimento dessa nova situação, entre eles o desenvolvimento dos sistemas informatizados, a expansão da tecnologia de telecomunicações, as novas tecnologias de produção, a queda em 50% no custo dos transportes nos últimos 15 anos, a emergência de novos países industriais e - não se pode desconhecer a influência cultural dos Estados Unidos no resto do mundo.
A convergência de tais fatores determinantes produziu uma cena mundial surpreendente:
- Notícias dão volta em torno do planeta em segundos
- Cerca de 1 trilhão de dólares transitam diariamente entre os continentes através de transferencias eletrônicas no mercado financeiro
- Novos produtos são fabricados simultaneamente em vários países
- Em 25 anos, o comércio mundial explodiu, passando de 557 bilhões de dólares para 6 trilhões de dólares ao ano.
- O mercado assumiu papel preponderante na estruturação da vida política e social sobrepondo-se a fronteiras e aos Estados nacionais.
Uma nova ordem mundial vai-se instalando e mudanças radicais em diversas áreas:
Na Economia – desregulamentação, privatização e flexibilização de mercados, acirramento da competição, supremacia do marketing e da inovação e concentração de capitais.
Na Política – reforma da ordem jurídico-política, redução do Estado, fortalecimento das organizações não governamentais e estabelecimento progressivo de uma sociedade civil global e democrática.
Na área Social – padronização das preferencias, principalmente na classe média; concentração de renda, fim do emprego estável, valorização da capacidade de comunicar e produzir em equipe, criar prever e intuir.
Na área Cultural – interação entre o local e o global, o particular e o universal; descentralização, segmentação e pluralismo circulação mundial de idéias e objetos culturais
Na área Ambiental - visão holística do homem, introdução do conceito de desenvolvimento sustentável abordagem ambiental como uma questão global.

Evangelho e Espiritismo - A globalização é processo, é caminhada e, como tal, também abriga riscos e desvios, alguns dos quais já são bem visíveis, a merecer correção urgente. Três exemplos: a excessiva concentração de renda com algumas conseqüências sociais perversas, o tráfico internacional de drogas e a crise de valores éticos alimentada pelo culto ao consumismo como um fim em si mesmo. Não há como negar, contudo, que ela tem favorecido o desenvolvimento econômico, o saneamento ambiental, a democratização política com a ampliação e respeito aos direitos humanos e a melhoria das relações entre os povos.
A globalização, reconhecem alguns sociólogos, resulta de forças materiais e espirituais. Reverter agora a humanidade à fase de isolamento nacional afetaria o desenvolvimento de tecnologias, desorganizaria a produção e acarretaria custos econômicos, sociais e culturais bem maiores do que os dos atuais vícios do processo.
Considerada a sua irreversibilidade a esta altura dos acontecimentos, surge então a grande pergunta: a globalização e a mensagem do ,Cristo são incompatíveis?
Acho que não.
O Evangelho foi o maior movimento de que se tem notícia em direção à integração dos povos, mediante a prática da lei de amor. Aí, aliás, reside uma das grandes diferenças entre os paradigmas religiosos do Judaísmo e do Cristianismo. Os judeus reverenciavam um deus antropomórfico e nacional, que ele, era seu povo predileto e desprezava os demais. Jesus revelou-nos o Deus Pai, que ama a toda a humanidade. Marcos (16:15) nos apresenta um Jesus universal e integrador. "Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura", e recomendou o Cristo redivivo segundo os registros do evangelista.

Esse mesmo traço universalista iria a marcar 18 séculos depois a presença entre nós do Consolador prometido por Jesus. As manifestações mediúnicas que nos proporcionam a Doutrina Espírita, no século XIX, não estavam limitadas a m pequeno grupo de médiuns ou iniciados, tampouco a uma cidade ou país. Pipocaram em várias partes, com a mesma clareza e coerência de ensinamentos que levaram o codificador Allan Kardec a destacar a universalidade dos ensinamentos como uma das principais características da Terceira Revelação. Vale lembrar que o alicerce doutrinário do Espiritismo representa a síntese de conhecimentos milenares das grandes religiões, integrando dessa forma povos e crenças de diversos pontos do planeta.

A visão kardequiana da nova era, da Terra elevada ao estágio de mundo de regeneração, é a de uma humanidade irmanada, acima dos estados nacionais. e consciente de sua relação com o cosmo. Não é o planeta do bem absoluto, mas o da prevalência da ética, da transparência nas relações entre os homens. É impressionante a antevisão de Kardec, há mais de 140 anos, e com ela coincide com os novos paradigmas
da atualidade, em especial o paradigma ecológico.
Vale também lembrar que Kardec deixou claro qual o campo de contribuição do Espiritismo à construção dessa nova era, evitando transformá-lo em panacéia para males que cabe ao homem resolver com o concurso da ciência e da técnica. Em A Gênese (cap. XVIII, item 25), assevera o codificador: "O Espiritismo não cria a renovação social; a madureza da humanidade é que fará dessa renovação uma necessidade. Pelo seu poder moralizador, por suas tendências progressistas, pela amplitude de suas vistas, pela generalidade das "questões que abrange, o Espiritismo é mais apto do que qualquer outra doutrina a secundar o movimento de regeneração".
É bom não perdermos de vista essas guias ao considerarmos a atuação do movimento espírita no mundo globalizado.

Vantagens e riscos - Algumas condições e situações geradas pela conjuntura mundial favorecem - e
muito - a divulgação doutrinária e a expansão do movimento espírita. O maior relacionamento entre países e povos, as facilidades de comunicação e transporte e o acesso universal às tecnologias de informação é certamente o fator preponderante. Há cinqüenta anos, por exemplo, o médium e tribuno Divaldo Franco percorria roteiros empoeirados em automóveis precários, locomotivas "Maria Fumaça" e até sobre jumentos. Conseguia ir pouco além de seu Estado Natal, a Bahia. Nos últimos anos, percorreu 52 países, pregando o Espiritismo para auditórios os mais diversos e através dos meios de comunicação de massa.
Em que pese a mistura de joio e trigo, das iniciativas sérias e dos interesses comerciais nem sempre éticos, é fato que há em todo o mundo uma busca acentuada de conteúdos espirituais pelo homem moderno. perplexo e ansioso ante conhecimentos e mudanças e que não consegue processar. O abalo dos velhos paradigmas, com o questionamento das "verdades" oficiais e acadêmicas, abriu caminho para o crescimento das fontes alternativas de conhecimento, entre elas o Espiritismo, hoje respeitado em círculos nos quais até há pouco era alvo de chacota.
É óbvio que nas circunstancias atuais, a Doutrina Espírita deverá interagir com outros conhecimentos de forma mais freqüente e imprevisível, o que nos coloca diante de variáveis que constituir-se em fator de enriquecimento da Doutrina e fortalecimento do movimento espírita ou em ameaças ao saudável desempenho da tarefa que nos foi confiada pela Espiritualidade.
Estamos preparados para empreender a divulgação da Doutrina Espírita dentro de novas condições globais? Eis a questão.
Em janeiro passado lancei esta pergunta para Divaldo Franco, após um workshop do médium em Natal RN. Divaldo não dissimulou sua preocupação. Ele acha que é melhor avançar nesse caminho com cautela, cuidando antes de investir na formação de trabalhadores, capacitando-os a entender e ensinar a Doutrina. Só partir para um novo passo após consolidar o anterior, pensar na qualidade do que vamos mostrar ao mundo e como vamos mostrar. Atitudes precipitadas podem resultar em prejuízos também em escala global.
Sábias palavras que não fazem mal a ninguém, nem mesmo ao mais entusiasta empreendedor do campo da divulgação espírita. A propósito, a divulgação e a prática do Espiritismo jamais deveriam ser dissociadas da ética cristã, e por isso nos remete a velha questão : propaganda ou ou difusão? Se quisermos tocar apenas os sentidos, induzir as pessoas ao "consumo" do Espiritismo, em busca de "milagres" ou de "novidades" que lhos abrandem momentaneamente a ansiedade, então poderemos aderir ao estilo raidoso e nem sempre honesto da propaganda. Se buscamos esclarecer, despertar consciências, certos de que trabalhamos com espíritos eternos, então haveremos de persistir na difusão séria e equilibrada dos princípios doutrinários, ainda que por todos os meios modernos de comunicação e com a utilização de técnicas que facilitem a compreensão e fixação dos ensinamentos, sem banalização ou deturpações.
A própria administração do movimento espírita exige cautela quanto à adoção de novas técnicas de gerenciamento por que aqui, como em tudo quanto diz respeito ao Espiritismo, a ética do Evangelho deve dar o tom. Não há dúvida de que precisamos aperfeiçoar estruturas administrativas pesadas, arcaicas, que impedem a agilidade do movimento, mas será que tudo o que é "verdadeiro" e eficaz numa empresa vale para o movimento espírita? A empresa moderna deve ser ágil e flexível, adaptando-se constantemente às expectativas e exigências do consumidor. Tom Peters, um dos gurus empresariais da era da globalização, sugere que as corporações admitam passar por uma revolução a cada semestre. O Espiritismo deve submeter-se às expectativas e exigências das massas ou educar o homem para o progresso moral? Empresas buscam resultados, lucros, quase sempre a curto ou médio prazos. O Espiritismo trabalha na perspectiva da eternidade. Não é mesmo um desafio fácil modernizar o movimento espírita sem descaracterizar o Espiritismo.
Quanto à interação da Doutrina Espírita com outras filosofias e disciplinas científicas, o bom senso nos pede agir sem preconceitos, porém com prudência. Costumamos repetir com Allan Kardec, em A Gênese: "Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado porque se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará". É isso mesmo e não tem nada a ver o espírita mostrar-se receoso com descobertas e experiências científicas, a exemplo da ainda polemica clonagem. Mas vamos devagar com o andor.
É que ainda o bom senso de Kardec que nos avisa, em A Gênese: "O Espiritismo não estabelece como princípio senão o que se acha evidentemente demonstrado ou o que ressalta logicamente da observação. Entendendo-se com todos os ramos da economia social, aos quais dá o apoio das suas próprias descobertas, assimilará sempre as doutrinas progressivas, de qualquer ordem que sejam, desde que hajam assumido o estado de verdades práticas".
Vivemos um período de efervescência de experimentos, hipóteses e teorias, muitos dos quais são contraditados por outros estudos ainda quando são alvo da divulgação barulhenta da mídia. Que tal, então, encará-los com cautela até que o novo conhecimento esteja sedimentado e comprovado com todo o rigor da ciência?
Nesse campo temos algo a aprender com o Stanislav Grof, c pai da Psicologia Transpessoal. em sua avaliação da postura da ciência ante os fenômenos mediúnicos. Diz ele: "Até que a ciência ocidental moderna seja capaz de oferecer explicações plausíveis para todas as observações referentes a fenômeno como experiências espíritas e memórias de vidas passadas. os conceitos encontrados na literatura mística e ocultista devem ser encarados como superiores à abordagem atual da maioria dos cientistas ocidentais, que ou não conhecem fatos ou os ignoram".
A Codificação Kardequiana continua atualizada - em que pese alguma defasagem quanto à terminologia - e até agora nenhum de se pontos basilares foi sequer arranhado por algum conhecimento produzido no nosso século. A abertura do movimento espírita para o mundo deve se processar sem complexo de inferioridade, com segurança e sem os vícios do intelectualismo esnobe, arrogante, que subestima os valores morais, com o que tentando compensar, assim, nossas limitações na área do amor, da fraternidade.
Viver Jesus é e será sempre a melhor maneira de atestar a validade da doutrina espírita em seu campo primordial de ação: o da reforma moral da humanidade. Viver a espiritualidade em oposição aos valores materialistas, tantas vezes cultivados até em nome da religião. Qualquer adaptação às mudanças conceituais e tecnológicas do mundo globalizado, a meu ver, deve considerar esse detalhe que em suma, é a essência do ideal que cultivamos e com o qual esperamos melhorar o mundo.

E-mail: extrabr@summer.com.br

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

UM OLHAR SOBRE A MEDIUNIDADE

Um olhar sobre a Prática Mediúnica: algumas considerações feitas no calor de uma vivência em construção no campo da Mediunidade.


Esta é uma discussão que vem sendo bastante desenvolvida nas Casas Espíritas entre os médiuns e dirigentes de grupo . Longe de esgotar a questão , quero apenas trazer algumas reflexões pertinentes ao tema na dupla condição de trabalhador em uma Casa Espírita e em um grupo de Apometria.Para começar quero colocar que na minha modesta experiência não observei nenhum campo de conflito entre as duas práticas espíritas. Muito pelo contrário , apesar de duas experiências distintas , estou podendo apreender e desenvolver a minha vivencia mediúnica de maneira bastante proveitosa.
Geralmente, nas duas experiências - são equipes distintas , reunimo-nos esperando que os nossos Amigos Espirituais se apresentem para o trabalho de assistência e/ou tragam os espíritos que vão ser atendidos. Na maior parte das situações tem-se uma mínina idéia do que vai acontecer , bem como o tipo de espíritos – encarnados ou desencarnados que vamos tratar.Essa condição nos é dada pelo acúmulo das situações já vividas nos grupos e principalmente pela nossa condição mediúnica. O atendimento se dá basicamente com a utilização de passes e tratamentos específicos , sendo utilizados recursos mediúnicos da psicofonia , da clarividência e da clariaudiência e eventualmente em cada oportunidade , de acordo com a situação é estabelecido com o espírito um dialogo doutrinador fundamentado na ética cristã ,sempre com a intenção de fazer com que este possa repensar as suas atitudes e retomar o seu caminho evolutivo. Esse diálogo costuma ser apoiado pelos orientadores espirituais de cada um dos grupos e no caso do surgimento de alguma entidade "hostil", o coordenador/doutrinador conta com sua condição moral para manter a ordem. No caso da manifestação de um obsessor declarado começa o trabalho de convencimento tentando a modificação das suas atitudes com argumentos cristãos (perdoar, amar o próximo, etc.). Neste caso , a meta a ser alcançada visa o recolhimento e encaminhamento desse(s) espírito(s) que estava(m) junto a um encarnado ou não com a devida orientação e esclarecimento.
Esclarecemos que quando falamos em obsessão, nos reportamos aos espíritos que vivem nas diversas regiões do mundo dos espíritos, e as ações que eles exercem sobre os encarnados, como também sobre os desencarnados. Sabemos também que a obsessão pode ser de encarnado para encarnado, como de encarnado para desencardo.Já como autobsessão,entendemos as ações que a própria criatura, encarnada exerce sobre si própria. Por processo de culpa, remorso, medo, rebeldia...
Prosseguindo nas minhas observações , acredito - é necessário de se frisar, que o bom resultado dos nossos trabalhos – nos dois grupos, depende da habilidade dos nossos coordenadores/doutrinadores e dos seus conhecimentos no que diz respeito à doutrina espírita e de suas particularidades no decorrer dos trabalhos e da assistência espiritual que a nossa sintonia pode alcançar. No caso , o coordenador/doutrinador acaba por se transformar em um bom advogado do Cristo, um mediador, e, com uma argumentação correta e precisa, dentro dos princípios evangélicos, vai convencendo os conflitantes a mudar, a se reconciliar. É importante que todos nós possamos nos manter sempre atualizados nos estudos e que principalmente, durante os trabalhos, vibremos no mesmo diapasão, para que tenhamos uma boa sintonia com o mundo espiritual e uma boa sincronia de pensamentos afim de que possamos colher bons frutos nas tarefas realizadas e somar mais conhecimentos para futuras experiências. Penso que nós - os trabalhadores do mundo encarnado, devemos preservar sempre o próprio equilíbrio particular. Entretanto, encontramos continuamente algumas dificuldades no nosso trabalho mediúnico . E não poderia ser diferente .
Agora ,falarei especialmente da minha condição para o trabalho tanto no Grupo de Apometria como no Grupo de Passes . Para vencer tais dificuldades procuro seguir alguns procedimentos. É fundamental manter permanente estado de prece e vigília individual e coletivamente afim de que todos nós estejamos em sintonia mediúnica .Tal propósito serve para que passemos ,uns aos outros, o apoio e a segurança necessários aos processos de “incorporação”, dos níveis de consciência e ao suporte que receberemos do plano espiritual.
Ao chegar no ambiente do trabalho , retomo a minha preparação propriamente dita. Cabe aqui um parêntesis para esclarecer que esse processo já se (re) iniciou em casa com os cuidados básicos necessários – leitura,alimentação ,etc. Dirijo o meu pensamento a Deus na condição de filho querido pedindo que a sua Misericórdia possa sustentar o trabalho que irá acontecer. Prosseguindo, peço licença ao nosso Mestre Jesus , na certeza do seu apoio e presença.Já com os pensamentos mais acalmados chamo à presença do nosso grupo o Mentor de nossa Casa e em especial o meu Amigo Espiritual , e , na confiança das suas presenças ,vou afastando todos os pensamentos estranhos ao trabalho.Aos poucos ,mais tranqüilo vou sendo “levado” pelo ritmo da minha respiração e com a ajuda do meu pensamento à tranqüilidade da minha mente.Neste ritmo ,vou deixando de lado as questões mais particulares , soltando a minha mente e o meu corpo e começo a “sentir” sutilmente a presença dos meus Amigos Espirituais. Em princípio pode parecer muito fácil, mas é muito complicado.
No inicio das minhas experiências , em muitas oportunidades, a ansiedade e o medo me assolavam a mente , e , me sentia muito inseguro . Atualmente, ainda persistem muitos desses sentimentos , mas aos poucos , vou aprendendo a confiar em mim , nos meus Amigos e na Casa Espírita . Pela nossa sintonia podemos chegar às vibrações necessárias ao trabalho que precisamos realizar.É o nosso pensamento que constrói a nossa ação. Por isso ,nós devemos exercitar o nosso pensamento sempre no Bem para que tenhamos sustentação e companhia na ocasião do desenvolvimento do trabalho mediúnico. Venho procurando , na medida do possível, identificar os distintos níveis de Consciência (nunca tinha lido nada sobre isso!). Isso é muito importante para que possamos “interpretar” quem é o corpo espiritual que está ali se apresentando e o que ele vai dizer, quem ele é, etc.Tal conhecimento pode apontar também mais claramente o que é produto da nossa mente e o que não é ; tenho observado e considerado que tal domínio não aparece de uma hora para a outra, por isso é interessante que eu - o médium , vá experimentando e (re) conhecendo em mim , cada nível de consciência, para que eu possa identificar as diversas situações em que terei de lidar e reconhecer espíritos com um grande esquecimento ou com grande bloqueio mental e que não conseguirão definir o seu nome e a sua história.
A literatura aponta que para facilitar a identificação podemos usar a seguinte técnica: o corpo astral tem uma grande ligação com o chacra cardíaco, e o médium vai sentir no cardíaco uma palpitação ou então uma ardência maior. Nos casos de incorporação de Mental Inferior, percebemos uma diferença de sensação no chacra laríngeo e, no frontal para Mental Superior. É claro que essa diferença é percebida com a vivência. Não podemos confundir pesado com energias negativas, que são coisas diferentes. Assim , na medida em que começamos a nos familiarizar com o trabalho – quer seja na “incorporação” ou no desdobramento anímico , por exemplo , podemos perceber quando se inicia a aproximação.Ainda a respeito das sintonias e vibrações , é importante perceber que cada um de nós pode “sentir” as sintonias e vibrações de forma diferente das que foram explicitadas acima , e que cada um de nós pode desenvolver a sua própria forma de “sentir” as “incorporações” , já que isso não é uma regra pois, em mediunidade existem muito mais exceções do que regras.
Uma outra questão bem importante diz respeito à Mistificação.Nós precisamos aprender a identificar e perceber uma Mistificação.Porém é importante que saibamos que para isso é fundamental o equilíbrio. Portanto e, se por um motivo ou outro estivermos passando por dificuldades interiores, devemos ter a humildade de registrar a nossa incapacidade eventual. Lembremo-nos da nossa condição limitada e que Mediunidade não combina com Vaidade.Devemos ter claro que a nossa participação nestas condições pode nos levar a mistificar uma “incorporação” mascarada pelo animismo.
Em cada oportunidade que o trabalho me apresenta surgem situações bem diferentes uma das outras .E isso é bem interessante de ressaltar , já que nesses casos aparecem muitas vezes , questões que precisam ser trabalhadas em mim. Daí , é que percebo o quanto é misericordiosa a Providência Divina.No atendimento prestado aparentemente ao outro , acabamos por nos aproximar dos nossos problemas .E isso só acontece somente naqueles níveis em que estivermos preparados para percebê-los. A maior parte dessas questões tem se apresentado sob a forma de episódios de convivência e relação entre irmãos – encarnados e/ou desencarnados , ligados a um passado e/ou presente , na busca da construção dos seus futuros.São , via de regra , casos de obsessão , perdão, vítimas , ódio , mágoas e ressentimentos entre um ou mais espíritos. Nestes casos , surge a necessidade do trabalho espiritual no qual somos usados e que são realizados pelos irmãos desencarnados. No decorrer deste tempo tenho percebido que as pessoas de um modo geral estabelecem dentro e fora de si um entendimento, afirmando e repetindo que tem certos problemas , quer sejam psíquicos ou psicológicos, ou mesmo físicos, que não podem ser mudados, e que de tanto pensarem e falarem, a respeito do assunto acabam somatizando algo mais grave e de difícil solução. Algumas até já possuem o merecimento para melhorar, entretanto, devido à falta de fé em si e de empenho vão continuar sofrendo. Assim,vejo o quanto a Doutrina Espírita dá suporte a nossa melhora e é importante subsidio a nossa mudança de comportamento para que se afastem de nós os maiores sofrimentos.No entanto ,vejo , que os sentimentos negativos e as baixas vibrações são empecilhos ao avanço do trabalho espiritual. Essa situação se expressa pela camuflagem dos próprios níveis de consciência feita por obsessores ou amigos de regiões negativas ligados aos irmãos que chegam a Casa Espírita, dificultando a ocorrência e a evolução do tratamento. Por isso , a importância da ambiência da Casa e da preparação cuidadosa que somos orientados a fazer para o trabalho alcançar bom termo.
É desta forma que consigo compreender a maneira como os nossos Amigos Espirituais esperam contar com a nossa responsabilidade para o trabalho e a tarefa que abraçamos . Tenho sentido que, se estamos preparados e conscientes das nossas possibilidades , podemos permitir a aproximação de espíritos que precisam da ajuda necessária as suas transformações , que ainda não retomaram a devida conscientização do mundo espiritual, que estão longe de suas verdadeiras mudanças, que ainda precisam resgatar vivencias e experiências perdidas , que ainda se encontram em níveis rebelados , que não se deixam ser atraídos para o diálogo, e que ainda permanecem apegados aos seus traumas e problemas. Esses irmãos ainda vivem contidos nas suas dificuldades , nos seus remorsos, nos seus medos e ódios. Devido as suas inseguranças e incertezas essas criaturas relutam em mudar. É nesta hora que me percebo sujeito de muitas dessas dificuldades e que longe da perfeição , estou tendo a chance de ver no outro a minha situação potencializada num futuro que só a mim interessa manter afastado. É nessa condição igual - de trabalhador e irmão que devemos colocar o nosso olhar e a nossa ação para com esses espíritos , garantindo o nosso melhor propósito e a mais especial atenção pautados no amor incondicional.
Tenho aprendido que nós devemos ter a consciência da importância do nosso trabalho mediúnico em todos os níveis e que o uso dessa nossa capacidade a serviço do Bem pode significar tanto para nós quanto para muitos espíritos um (re) início do aprendizado e da retomada das nossas transformação e evolução espiritual . Além disso , nunca é demais reforçar, também, que o nosso comportamento é fator importante para a doutrinação ou convencimento do espírito principalmente porque o exemplo é fator fundamental para a mudança.
Um outro ponto importante que tenho podido vivenciar é quanto ao esforço que devemos empreender para manter a vibração necessária ao fortalecimento do nosso grupo . Toda vez que vibramos ciúme, inveja, medo, desconfiança, vaidade etc. , somos candidatos perfeitos para atrair forças deletérias e negativas tanto para cada um de nós quanto para o grupo que compomos.Precisamos compreender a nossa condição mediúnica e aceitá-la e trabalhá-la da melhor maneira que pudermos. A Mediunidade não pode ser compreendida por nós como moeda de troca na nossa negociação com Deus . Se assim entendemos , estaremos fadados ao fracasso. Devemos acreditar primeiramente que Deus é nosso Pai Amado e nós somos seus filhos queridos .Como conseqüência disso ele nos quer a todos de maneira igual ,sem privilegiar a nenhum, de seus filhos.
A minha experiência também tem me levado a compreender que , se compomos determinados grupos e vivenciamos determinadas situações , nestas ocasiões somos levados a utilizar cada um de nós , os nossos talentos – produtos das nossas vivencias , do nosso aprendizado , da nossa formação, da nossa profissão ,das nossas tendências ,etc. , na nossa vida . Agora , se acreditamos que as nossas experiências se acumulam nas nossas diversas vidas , podemos compreender que a nossa condição mediúnica também é conseqüência dessas nossas vivências e oportunidades . Daí ,chego à conclusão que se cada um experimenta uma determinada aptidão mediúnica , essa condição é para uso e fortalecimento individual e coletivo . Essa questão – a da composição dos grupos e a harmonia entre os seus componentes é de vital importância para o trabalho . Percebo que o contrário pode trazer conseqüências muito ruins , acarretando muitas vezes, algum prejuízo individual e coletivo. Se nos deixamos levar por sentimentos mesquinhos , estaremos abrindo pela invigilancia a porta para aproximações nefastas ao trabalho . Na prática,o que pode acontecer são dificuldades de concentração, cansaço e até dores físicas após os trabalhos, em conseqüência dos desgastes de energia que o médium não pôde suprir decorrentes da sua baixa vibração.Quando saímos do trabalho com dores, podemos inferir que as energias negativas foram deixadas por sofredores - encarnados e desencarnados ou nós mesmos. Tenho aprendido que com o trabalho que podemos realizar – apoiado e orientado pelos nossos Amigos Espirituais , essas energias são naturalmente drenadas e transmutadas na proporção direta do nosso amor e da pureza de propósitos que trazemos no coração.Além disso, experimentamos em nós o nosso próprio resgate e nos curamos das nossas próprias mazelas.
Para terminar , acredito também que podemos desenvolver certas dificuldades no exercício do nosso mandato mediúnico causadas pela falta de estudo ou conhecimento do assunto tratado.Nessas situações, podemos passar por algum bloqueio na ocasião da “incorporação” ou da aproximação dos nossos Amigos Espirituais , não conseguindo acessar e/ou interpretar os sinais que recebemos , por total desconhecimento da forma com tratar e/ou ajudar no encaminhamento das necessárias resoluções. Por entender firmemente que Mediunidade é sintonia , compreendo que para o alcance desse propósito é necessário além de uma boa sintonia para a aproximação de bons Amigos Espirituais e uma boa harmonia entre os componentes do nosso grupo, já levantados por mim , a prática do estudo sistemático que qualifique positivamente a nossa intenção no trabalho.A nossa atuação não pode estar fundada apenas na obra que os nossos Amigos Espirituais puderem apresentar. Só se aproximam de nós , os nossos semelhantes .Atraímos para a nossa companhia os iguais a nós . Assim , se queremos aproveitar da melhor forma a oportunidade que recebemos através do trabalho mediúnico , precisamos nos preparar para esse trabalho .E ,não poderia ser de outra maneira , temos que investir na melhoria do nosso entendimento para o progresso das nossas ações. Por experiência própria , tenho podido entender um pouco mais das muitas questões estudadas, porque venho conseguindo observá-las no trabalho prático nos grupos em que participo e assim obtenho pouco a pouco , alguma qualidade , nas minhas investidas no campo da Mediunidade.É apenas o começo (ou será recomeço?) de uma nova (?) relação.Falo assim , entendendo que é dessa maneira que começo a apurar mais as características da minha condição mediúnica desenvolvendo-as , sempre com a ajuda dos Amigos Espirituais e companheiros encarnados pacientes e abnegados que contribuem pacientemente com a minha evolução no trabalho. E assim , tento tirar e aproveitar de todas as situações de aprendizado o que for possível , porque entendo que dessa forma , estarei aproveitando de maneira mais oportuna , na condição em que me encontro , o auxilio e a assistência que venho recebendo no trabalho a que me proponho realizar.

Marco Aurélio Faria Rezende