segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Sobre os alfinetes , as lembranças e muito mais....

Já que o nosso titulo fala de alegorias vamos seguindo no mesmo ritmo.... Lembro de uma rua num distante subúrbio há muito tempo num bairro bem afastado . Lembro que nessa rua tinham muitas vilas e casas e que ali passavam todos os dias o verdureiro , o amolador de facas e leiteiro. E que tinha um açougue  que cortava e limpava o que o freguês queria levar e um sapateiro que ainda trocava salto de sapatos e uma pequena porta aonde trabalhava um  alfaiate . É  . Um alfaiate daqueles que talhava o tecido de acordo com o freguês  e transformava sonho em felicidade . É  certo que houve um tempo em que ele trabalhava muito e vinha gente de todo canto só  para  encomendar um terno para uma ocasião  pra  lá  de especial  que ele prontamente executava com a qualidade  que só  os Mestres possuíam. Sempre lembro da primeira vez que fui com o meu avô naquela casa  para que ele pudesse fazer um terno de festa com esse alfaiate . E ali naquela ocasião , lembro até hoje ,
pude conhecer um menino que , ao seu lado , aprendia  as primeiras lições do oficio do pai . E o pai , o alfaiate amigo do meu avô,  passava sem nenhuma formalidade , os passsos e os caminhos do seu ofício e da sua arte  ao seu filho . Mas o que mais me prendia a atenção  é  que ao mesmo tempo que trabalhava ele tinha o hábito  da prosa . É   . Era uma prosa que envolvia a todos que estavam por perto . E com o meu avô  , eles levavam  muito tempo falando da vida  , das oportunidades  e das dificuldades  tão  comuns  nas conversas daquela  época.  Tudo isso sem faltar  do gostoso cafezinho que lá  pelas tantas a sua esposa trazia  com muito gosto ....
Já  passou muito tempo desde essa época e às  vezes sempre me pego lembrando dessas situações sempre que passo por alguma dificuldade e dos muitos ensinamentos. Além  da grande amizade dos dois era muito bom perceber  a confiança  e cumplicidade que eles mantinham durante o processo da feitura do terno . Mais ainda , lembro mesmo criança,  do respeito que eles mantinham e do tom  de consideração que havia nas ponderações de cada um . De verdade  , nunca vi e nem me lembro  de nenhuma ocasião de ter havido nenhuma rusga entre eles . Mais ainda , havia época  em que o meu avô   , mesmo sem condição levava o corte e dizia não ter como pagar  de pronto e mesmo assim saía com o melhor terno já  feito porque havia ali a linha da honestidade , o corte da tolerância  e principalmente o acabamento do bom viver entre eles ...
Há muito o meu avô  e o seu amigo alfaiate já  não  estão entre nós  e desde que me fiz adulto , mudei , sai e nunca mais voltei  aquela rua e só  consigo  lembrá -la perdida na minha memória mas a guardo com muito  carinho porque é  lá  que ficaram essa e outras  tantas lembranças que me fizeram  ser o que sou hoje ...
Essa era a rua que nós morávamos e lá  estão guardadas o grito do verdureiro  e do amolador de facas ,  o cheiro do pão fresquinho de manhã  , as nossas  brincadeiras depois da escola , a hora que a minha avó  e as minhas tias sentavam com as cadeiras  nas calçadas e muito mais....
E hoje ela está  guardada , bem guardada.....

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