domingo, 18 de abril de 2010

SÉRIE "O CLARIM"

Abril no Espiritismo
Octávio Caúmo Serrano

Habitualmente os Centros Espíritas comemoram no dia 18 de abril o lançamento da primeira edição de “O Livro dos Espíritos”, obra que deu corpo de doutrina ao Espiritismo. No mês, porém, há outras datas importantes que valem a pena ser relembradas.
No dia 1 de abril de 1858, menos de um ano depois do lançamento da obra básica, o codificador Allan Kardec criou a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, deixando clara a importância do estudo espírita para aqueles que realmente desejassem compreender as mensagens do Plano Superior.
Foi o primeiro núcleo criado para estudo e discussão das revelações recém-chegadas e que mereciam ser mais bem compreendidas.
No dia 29 de abril de 1864, mais uma importante data de abril, Kardec lançava o terceiro livro da codificação, sucedendo “O Livro dos Espíritos” e “O Livro dos Médiuns”, de 1861. Tratava-se do livro “Imitação do Evangelho” que, a partir da terceira edição, passou a chamar-se “O Evangelho Segundo o Espiritismo”.
É provavelmente o livro mais lido e conhecido entre os espíritas, usado inclusive na prática do Evangelho no Lar e também recomendado para a oração diária que deve ser um hábito de todas as pessoas.
De nossa parte, defendemos que é um livro para também ser estudado, porque é um manancial de boas maneiras e um código de bem viver.
Ele foi escrito muito bem estruturado. Depois de um extraordinário prefácio assinado pelo Espírito de Verdade e uma bem feita introdução, constam do livro vinte e oito capítulos, sendo o último uma coletânea como sugestão de preces espíritas.
Em cada capítulo temos o enunciado clássico da Bíblia (Novo ou Velho Testamento), a explicação de Kardec para o referido texto e a orientação ou depoimentos de Espíritos que exprimem seus conselhos ou experiências vividas quando encarnados na Terra para servir-nos de alento ou advertência.
Esse livro, como que encomendado pelo Espírito de Verdade, enfatiza o cunho religioso do Espiritismo. Em contato de Kardec com o Espírito Guia em 9 de agosto de 1863, assim se manifestou o orientador: “Aproxima-se a hora em que terás de apresentar o Espiritismo como ele é realmente, mostrando a todos onde se encontra a verdadeira doutrina ensinada pelo Cristo. Aproxima-se a hora em que, diante do Céu e da Terra, terás de proclamar o Espiritismo como a única tradição verdadeiramente cristã e a única instituição verdadeiramente divina e humana. Ao te escolherem, os Espíritos conheciam a solidez de tuas convicções e sabiam que a tua fé, qual um muro de aço, resistiria a todos os ataques.” (1)
Eis porque “O Evangelho Segundo o Espiritismo” trata apenas da moral do Cristo, desprezando rituais, dogmas, o que faz com que não conflite com as demais religiões.
O Espiritismo não veio para combater as outras doutrinas, mas para ser um suporte a mais para o entendimento do Evangelho de Jesus por todas as criaturas.
Agradecemos a Allan Kardec por estas belas datas de abril!

Matão, 18 de Abril de 2010
http://www.oclarim.com.br

(1) O ESE – Edicel – 3ª edição de 1987 – Notícia sobre o livro.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

AÇÃO E ATITUDE

"Não te detenhas , portanto. Não admitas que a incerteza ou o temor te imobilizem o passo. Vale-te das horas e auxilia sempre , sem ostentação de virtude, sem reclamação ,sem alarde , e a vida entesourará as tuas migalhas de amor , delas formando a tua riqueza imperecível na bem-aventurança espiritual" (Emmanuel)



Sempre é tempo de agir e de fazer . Por mais que a nossa dificuldade seja muito grande , ela nunca deve imobilizar a nossa ação. Em todo momento , sempre é momento de estender a mão e de abrir o coração a quem precisa . Mesmo que seja só para ouvir . Mesmo que seja só para abraçar . Mesmo que seja só para segurar na mão. Tem horas que a intenção e o afeto podem caminhar juntos na direção do afago e do carinho . Em muitas oportunidades , temos a oportunidade de nos disponibilizarmos para algumas atitudes que , sempre são benvindas para quem está precisando . As atitudes mais valiosas são as mais simples , as que se cercam de solidariedade e de fraternidade , de amor e de carinho . O Amor só precisa do amor para ser alimentado . Para ficar forte , a nossa ação só precisa fortaleçer a esperança . Para a esperança se espalhar é necessário apenas a disposição do servir . Para tudo isso acontecer só precisamos acreditar , uns nos outros e , principalmente na nossa capacidade de amar sem condições nem limites. Que Deus , o Nosso Pai , nos abençõe a todos...

domingo, 4 de abril de 2010

SOBRE A PÁSCOA...




Visão Espírita da Páscoa
06/04/2006


Marcelo Henrique

Eis-nos, uma vez mais, às vésperas de mais uma Páscoa. Nosso pensamento e nossa emoção, ambos cristãos, manifestam nossa sensibilidade psíquica. Deixando de lado o apelo comercial da data, e o caráter de festividade familiar, a exemplo do Natal, nossa atenção e consciência espíritas requerem uma explicação plausível do significado da data e de sua representação perante o contexto filosófico-científico-moral da Doutrina Espírita.

Deve-se comemorar a Páscoa? Que tipo de celebração, evento ou homenagem é permitida nas instituições espíritas? Como o Espiritismo visualiza o acontecimento da paixão, crucificação, morte e ressurreição de Jesus?

Em linhas gerais, as instituições espíritas não celebram a Páscoa, nem programam situações específicas para “marcar” a data, como fazem as demais religiões ou filosofias “cristãs”. Todavia, o sentimento de religiosidade que é particular de cada ser-Espírito, é, pela Doutrina Espírita, respeitado, de modo que qualquer manifestação pessoal ou, mesmo, coletiva, acerca da Páscoa não é proibida, nem desaconselhada.

O certo é que a figura de Jesus assume posição privilegiada no contexto espírita, dizendo-se, inclusive, que a moral de Jesus serve de base para a moral do Espiritismo. Assim, como as pessoas, via de regra, são lembradas, em nossa cultura, pelo que fizeram e reverenciadas nas datas principais de sua existência corpórea (nascimento e morte), é absolutamente comum e verdadeiro lembrarmo-nos das pessoas que nos são caras ou importantes nestas datas. Não há, francamente, nenhum mal nisso.

Mas, como o Espiritismo não tem dogmas, sacramentos, rituais ou liturgias, a forma de encarar a Páscoa (ou a Natividade) de Jesus, assume uma conotação bastante peculiar. Antes de mencionarmos a significação espírita da Páscoa, faz-se necessário buscar, no tempo, na História da Humanidade, as referências ao acontecimento.

A Páscoa, primeiramente, não é, de maneira inicial, relacionada ao martírio e sacrifício de Jesus. Veja-se, por exemplo, no Evangelho de Lucas (cap. 22, versículos 15 e 16), a menção, do próprio Cristo, ao evento: “Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa, antes da minha paixão. Porque vos declaro que não tornarei a comer, até que ela se cumpra no Reino de Deus.” Evidente, aí, a referência de que a Páscoa já era uma “comemoração”, na época de Jesus, uma festa cultural e, portanto, o que fez a Igreja foi “aproveitar-se” do sentido da festa, para adaptá-la, dando-lhe um novo significado, associando-o à “imolação” de Jesus, no pós-julgamento, na execução da sentença de Pilatos.

Historicamente, a Páscoa é a junção de duas festividades muito antigas, comuns entre os povos primitivos, e alimentada pelos judeus, à época de Jesus. Fala-se do “pesah”, uma dança cultural, representando a vida dos povos nômades, numa fase em que a vinculação à terra (com a noção de propriedade) ainda não era flagrante. Também estava associada à “festa dos ázimos”, uma homenagem que os agricultores sedentários faziam às divindades, em razão do início da época da colheita do trigo, agradecendo aos Céus, pela fartura da produção agrícola, da qual saciavam a fome de suas famílias, e propiciavam as trocas nos mercados da época. Ambas eram comemoradas no mês de abril (nisan) e, a partir do evento bíblico denominado “êxodo” (fuga do povo hebreu do Egito), em torno de 1441 a.C., passaram a ser reverenciadas juntas. É esta a Páscoa que o Cristo desejou comemorar junto dos seus mais caros, por ocasião da última ceia.

Logo após a celebração, foram todos para o Getsêmani, onde os discípulos invigilantes adormeceram, tendo sido o palco do beijo da traição e da prisão do Nazareno.

Mas há outros elementos “evangélicos” que marcam a Páscoa. Isto porque as vinculações religiosas apontam para a quinta e a sexta-feira santas, o sábado de aleluia e o domingo de páscoa. Os primeiros relacionam-se ao “martírio”, ao sofrimento de Jesus – tão bem retratado neste último filme hollyodiano (A Paixão de Cristo, segundo Mel Gibson) –, e os últimos, à ressurreição e a ascensão de Jesus.

No que concerne à ressurreição, podemos dizer que a interpretação tradicional aponta para a possibilidade da mantença da estrutura corporal do Cristo, no post-mortem, situação totalmente rechaçada pela ciência, em virtude do apodrecimento e deterioração do envoltório físico. As Igrejas cristãs insistem na hipótese do Cristo ter “subido aos Céus” em corpo e alma, e fará o mesmo em relação a todos os “eleitos” no chamado “juízo final”. Isto é, pessoas que morreram, pelos séculos afora, cujos corpos já foram decompostos e reaproveitados pela terra, ressurgirão, perfeitos, reconstituindo as estruturas orgânicas, do dia do julgamento, onde o Cristo, separá justos e ímpios.

A lógica e o bom-senso espíritas abominam tal teoria, pela impossibilidade física e pela injustiça moral. Afinal, com a lei dos renascimentos, estabelece-se um critério mais justo para aferir a “competência” ou a “qualificação” de todos os Espíritos. Com “tantas oportunidades quanto sejam necessárias”, no “nascer de novo”, é possível a todos progredirem.

Mas, como explicar, então as “aparições” de Jesus, nos quarenta dias póstumos, mencionadas pelos religiosos na alusão à Páscoa?

A fenomenologia espírita (mediúnica) aponta para as manifestações psíquicas descritas como mediunidades. Em algumas ocasiões, como a conversa com Maria de Magdala, que havia ido até o sepulcro para depositar algumas flores e orar, perguntando a Jesus – como se fosse o jardineiro – após ver a lápide removida, “para onde levaram o corpo do Raboni”, podemos estar diante da “materialização”, isto é, a utilização de fluido ectoplásmico – de seres encarnados – para possibilitar que o Espírito seja visto (por todos). Igual circunstância se dá, também, no colóquio de Tomé com os demais discípulos, que já haviam “visto” Jesus, de que ele só acreditaria, se “colocasse as mãos nas chagas do Cristo”. E isto, em verdade, pelos relatos bíblicos, acontece. Noutras situações, estamos diante de uma outra manifestação psíquica conhecida, a mediunidade de vidência, quando, pelo uso de faculdades mediúnicas, alguém pode ver os Espíritos.

A Páscoa, em verdade, pela interpretação das religiões e seitas tradicionais, acha-se envolta num preocupante e negativo contexto de culpa. Afinal, acredita-se que Jesus teria padecido em razão dos “nossos” pecados, numa alusão descabida de que todo o sofrimento de Jesus teria sido realizado para “nos salvar”, dos nossos próprios erros, ou dos erros cometidos por nossos ancestrais, em especial, os “bíblicos” Adão e Eva, no Paraíso. A presença do “cordeiro imolado”, que cumpre as profecias do Antigo Testamento, quanto à perseguição e violência contra o “filho de Deus”, está flagrantemente aposta em todas as igrejas, nos crucifixos e nos quadros que relatam – em cores vivas – as fases da via sacra.

Esta tradição judaico-cristã da “culpa” é a grande diferença entre a Páscoa tradicional e a Páscoa espírita, se é que esta última existe. Em verdade, nós espíritas devemos reconhecer a data da Páscoa como a grande – e última lição – de Jesus, que vence as iniqüidades, que retorna triunfante, que prossegue sua cátedra pedagógica, para asseverar que “permaneceria eternamente conosco”, na direção bussolar de nossos passos, doravante.

Nestes dias de festas materiais e/ou lembranças do sofrimento do Rabi, possamos nós encarar a Páscoa como o momento de transformação, a vera evocação de liberdade, pois, uma vez despojado do envoltório corporal, pôde Jesus retornar ao Plano Espiritual para, de lá, continuar “coordenando” o processo depurativo de nosso orbe. Longe da remissão da celebração de uma festa pastoral ou agrícola, ou da libertação de um povo oprimido, ou da ressurreição de Jesus, possa ela ser encarada por nós, espíritas, como a vitória real da vida sobre a morte, pela certeza da imortalidade e da reencarnação, porque a vida, em essência, só pode ser conceituada como o amor, calcado nos grandes exemplos da própria existência de Jesus, de amor ao próximo e de valorização da própria vida.

Nesta Páscoa, assim, quando estiveres junto aos teus mais caros, lembra-te de reverenciar os belos exemplos de Jesus, que o imortalizam e que nos guiam para, um dia, também estarmos na condição experimentada por ele, qual seja a de “sermos deuses”, “fazendo brilhar a nossa luz”.

Comemore, então, meu amigo, uma “outra” Páscoa. A sua Páscoa, a da sua transformação, rumo a uma vida plena.