quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

VIOLÊNCIA

Violência

Por Francisco Sérgio Nalini

Antropologia

Em qualquer aspecto que o relacionamento é discutido sempre se chega à mesma definição, a evolução começa por todos nós. Há uma tendência natural, de nossa parte, em transferir os nossos defeitos para o outro.
Isso é também comum na violência, nós nunca somos violentos, nunca estamos errados. Este trabalho tentará demonstrar que também temos a nossa parcela a transformar, seja aprendendo, ou ensinando.
Segundo William Ury, antropólogo de 52 anos, em recente entrevista à Revista Veja, a dificuldade para se lidar com os outros começa em nós mesmos, isso vale também para os povos e citando Oriente Médio como exemplo. Para ele todos os países envolvidos nos conflitos têm certeza que estão com a razão e o adversário está sempre errado, e isso ocorre há milênios.
O antropólogo defende a tese que, nas negociações, é muito mais necessário saber ouvir do que falar.
Para ele tanto a guerra como a paz fazem parte da natureza humana, mas não concorda com a tese de que o homem guerreia entre si desde sempre. Se as primeiras notícias da evolução humana têm 1 milhão de anos, as primeiras guerras foram registradas há 10 mil anos, mais ou menos.
Segundo Ury, as guerras tiveram início com o agrupamento das civilizações, que deixaram de ser nômades e começaram a necessitar de espaço para suas plantações e criação de animais.
“Estamos vivendo tempos muito turbulentos, de transição. É um período marcado por uma transformação na estrutura da sociedade. Antes, prevaleciam as sociedades verticais, em forma de pirâmide. Assim eram as monarquias, o feudalismo e as ditaduras. Agora, a democracia está se espalhando ao redor do mundo. Essa democratização acontece no trabalho, na estrutura familiar e na política. A pirâmide está sendo achatada, o que significa que todos querem participar das decisões que os afetam. No curto prazo, isso gera mais conflitos.”, afirma o antropólogo.
Willian Ury ainda aborda sobre a importância de pais e países evoluídos e democráticos serem terceiros nos conflitos familiares e de outros países, é a importância da participação dos cultos e moderados.
No dia a dia, para se evitar a violência nas relações humanas, ele sugere a tese de “sair para a sacada”, ou seja, antes de gritar, esbravejar, agredir, devemos refletir meditar e tomar decisões sábias.
***
Já para Herculano Pires, A violência do homem civilizado tem as suas raízes profundas e vigorosas na selva. O homo brutalis tem as suas leis: subjugar, humilhar, torturar, matar. O seu valor está sempre acima do valor dos outros. A sua crença é a única válida. O seu modo de ver o mundo e os homens é o único certo. O seu deus é o único verdadeiro. Só o que é bom para ele é bom para a comunidade. Os que se opõem aos seus desígnios devem ser eliminados pelo bem de todos. A violência é o seu método de ação, justificado pelo seu valor pessoal, pela sua capacidade única de julgar. Tece ele mesmo a trama de fogo do seu futuro nas encarnações dolorosas que terá de enfrentar.
Para Herculano este espírito brutal no ser humano refletiu até nas religiões, que se tornaram também violentas, fazendo de Deus uma divindade implacável praticando homicídios e genocídios em nome de Deus.

Criminologia

Os aspectos criminais não se concentram em um dos conhecimentos científicos, pelo contrário mantém relação com diversos deles. Uma pessoa não é só “violento”, seu caráter foi moldado por outros fatores.
A criminologia tem relações com a Psiquiatria, pelo ângulo patológico, com a Psicologia, por onde se estuda a delinqüência, com a Sociologia, pela influência do meio onde o cidadão vive, e Antropologia, pela importância do meio onde ele vive.
Para nós, espíritas, além de todos dos fatores materiais envolvidos, como o do direito e da educação, por exemplo, temos que levar em conta as questões reencarnatórias também.
Estamos diante de verdadeiro fenômeno de patologia social, sob este ponto de vista, a sociedade tem o seu lado bom, nas manifestações de pureza, dignidade, amor ao próximo, mas tem as suas doenças, como nos organismos biológicos. E a criminalidade é uma dessas doenças, relata o espírito Deolindo Amorim.

Razões da Violência

Ivan René Franzolim, analisando o Livro dos Espíritos, entendeu que, segundo o Espírito de Verdade (P. 785 do LE), os maiores obstáculos ao progresso moral são o orgulho e o egoísmo. Ambos caracterizam o sentimento ainda muito imperfeito que aliados à ignorância das leis naturais e seus mecanismos de atuação, originam as ações contrárias a essas mesmas leis constituindo a violência. Essa ignorância, no entanto, não nos exime de culpa e responsabilidade pelos nossos atos uma vez que a lei de Deus está escrita na consciência de cada um (P. 621 do LE), permitindo ao homem discernir sobre o bem e o mal. As imprudências cometidas sem intenção negativa ou consciência perfeita da situação estariam livres de culpa (P. 954 do LE), embora o Espírito mais adiantado se sinta naturalmente compelido a auxiliar àqueles envolvidos pela sua imprudência.
Já Divaldo Pereira Franco, em um documento elaborado sobre a paz para importante encontro mundial, declara que o ser humano, preservando uma herança ancestral, também se faz agressor do seu irmão, vitimado por fatores de profunda perturbação emocional, mental, social, econômica, religiosa, étnica, cultural, demonstrando que ainda não se identificou com Deus, ou se O conhece, seu relacionamento é superficial ou fanático, não lhe havendo permitido uma perfeita sintonia com a paz que dEle se irradia, e que deve estender-se por todo o mundo.
O tribuno não compreende como alguns acumulam fortunas incalculáveis e centenas de milhões de outros indivíduos vivem na miséria, sem a menor dignidade humana, experimentando a fome, a desolação, as doenças dilaceradoras variadas e a promiscuidade de toda natureza, havendo perdido, inclusive, o direito de existir.
Allan Kardec, nas observações à resposta da pergunta 685, do Livro dos Espíritos, menciona o desemprego generalizado como flagelo e miséria. Para ele os hiatos produtivos do ser humano podem causar uma descompensação na educação moral, a educação do comportamento e dos exemplos.

“Quando se pensa na massa de indivíduos lançados a cada dia na torrente da população, sem princípios nem freios e entregues aos próprios instintos, devem causar espanto as conseqüências desastrosas que resultam disso? Quando essa arte for conhecida e praticada, o homem trará hábitos de ordem e de previdência para si e para os seus, de respeito pelo que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar menos angustiado os maus dias inevitáveis. A desordem e a imprevidência são duas chagas que uma educação bem conduzida pode curar; aí está o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, a garantia da segurança de todos.”, explica Kardec. (grifo do preparador)

Já na resposta da pergunta 930, de como os incapacitados farão para sobreviver, o Espírito de Verdade é enfático:
– Numa sociedade organizada de acordo com a lei do Cristo ninguém deve morrer de fome.
Kardec na sua observação à resposta entende que, com uma organização social sábia e previdente, o homem pode carecer do necessário apenas por sua culpa, mas mesmo essas suas faltas são geralmente o resultado do meio onde vive. Quando o homem praticar a lei de Deus, terá uma ordem social fundada na justiça e na solidariedade, e ele mesmo também será melhor.
O Espírito de Verdade vai mais além quando a pergunta é:
- Com que sinais uma civilização pode ser reconhecida como completa?:
– Vós a reconhecereis pelo desenvolvimento moral. Acreditais estar bem avançados, pelas grandes descobertas e invenções maravilhosas, e estais melhor alojados e vestidos do que os selvagens. Mas apenas tereis verdadeiramente o direito de vos dizer civilizados quando tiverdes banido da sociedade os vícios que a desonram e viverdes como irmãos praticando a caridade cristã. Até lá, sois somente povos esclarecidos, que percorreram apenas a primeira fase da civilização.
Tipos de Violências

Para catalogarmos a violência basta abrir o jornal do dia. Infelizmente os órgãos de imprensa, refletindo a vontade do próprio povo, dão um destaque enorme para os atos cruéis, programas com audiência fantástica até se especializaram no assunto.
A primeira violência a se referir é a que causamos a nós mesmos, dando vazão aos prazeres da matéria, esquecendo-nos que o fundamental é a evolução do espírito e o atingimento dos princípios cristãos.
Na sociedade a violência permeia pelo racismo, política, família, economia, religiões, honra, e tantas outras.
Existe até livro best seller para apontar os crimes mais famosos no mundo
Cada um de nós fica mais ou menos chocado com os tipos de violências, principalmente contra idosos, mulheres e crianças, por exemplo, tendo origem dos mesmos fatores já mencionados.
Entre os atos de violência um dos mais difíceis de combater é o da violência doméstica/intrafamiliar, principalmente as contra crianças e adolescentes. Pressões psicológicas, espancamentos, entre outras que minam sua auto-estima merecem nosso estudo e atenção.
Não podendo esquecer também de atos de intolerância, indiferença, assédio moral, desequilíbrio emocional e afetivo, entre outras.


Para lembrar alguns atos de rara violência, citaremos apenas três da história recente, os jovens que atearam fogo em um índio, depois ainda argumentaram que o confundiram com um pedinte; a filha que patrocinou e participou do assassinato dos pais a pauladas, e do pai que matou seus filhos para se vingar da mãe, sem contar inúmeros casos de membros da família, que são mortos por não fornecer dinheiro para drogas, não poupando nem a própria mãe.

Livre Arbítrio

Na Revista Espírita Allan Kardec, N.º 39, Umberto Ferreira explica que, depois de reencarnados, os espíritos conservam o livre-arbítrio. Podem desviar-se dos rumos traçados no Mundo Espiritual, abandonar os planos de trabalhar pelo próprio aperfeiçoamento e desviar-se para o caminho do mal. Os espíritos mais imperfeitos correm maiores risco de cometer tais desvios, enquanto os que já conquistaram certas qualidades costumam cumprir os planos traçados antes da reencarnação.
Deus não intervém. Deixa que suas leis se cumpram no momento oportuno. Ensina-nos Allan Kardec: "A prosperidade do mau não é senão momentânea, e se ele não expia hoje, expiará amanhã, ao passo que aquele que sofre, está expiando o passado" (O ESE, cap. V, item 6).
Fica claro, pois, que o próprio espírito, utilizando o livre arbítrio que Deus concede a todos, traça a sua trajetória de deslizes e crimes hoje e grande sofrimentos no futuro, ou de aprendizado, lutas e sofrimentos hoje e felicidade no futuro.

Como combater a violência

Neste ponto já podemos concluir que vai ser pelos princípios morais cristãos que combateremos a violência, nunca se esquecendo da necessidade de se alcançar alguns objetivos para este aperfeiçoamento:

Conhecer melhor a si mesmo;
Enriquecer o dia-a-dia o conhecimento espiritual;
Estimular continuamente o bem interior;
Trabalhar pelo auto-aprimoramento
Fazer o bem
Evitar o mal
Orar (e vigiar)
Exercitar a empatia - colocar-se no lugar da outra pessoa.
Jiddu Krishnamurti, filósofo indiano, alerta: "O homem ignorante não é o homem sem instrução; é aquele que não conhece a si próprio".
"Conhece-te a ti mesmo..., e conhecerás o Universo de Deus", frase atribuída por muitos ao filósofo grego Sócrates, o que nunca foi comprovado, mas que nem por isso perde sua importância no contexto deste trabalho.
Para Herculano Pires a tônica é o Cristianismo, pois somente ele mostrou-se capaz de reformular o mundo em sua globalidade. Para ele é importante que cheguemos ao futuro pelos meios adequados, com o mínimo de conflitos criminosos e o máximo de compreensão racional dos nossos objetivos. Lembra que, como observou Gandhi em suas memórias, os meios que nos podem levar à verdade e à dignidade só podem ser verdadeiros e dignos. Esses meios não precisam da justificação dos fins, pois se justificam por si mesmos.
As ações de combate à violência, por tudo que vimos, estão longe da idéia de fazê-la com mais violência. Elas transitam por uma melhor distribuição de oportunidades, uma melhor e equânime educação, ou seja, mais chances de uma vida digna a todos.
Na parte educacional, no livro O Mestre na Educação da FEB, Pedro Camargo (Vinícius), vai mais além:
Quando Jesus preconizou o - amai os vossos inimigos; fazei bem aos que vos fazem mal - não proclamou somente um preceito altamente humanitário, preferiu uma sentença profundamente pedagógica e sábia. A benevolência, contrastando com a agressão, é o único processo educativo capaz de corrigir e regenerar o pecador.
É muito fácil encarcerar ou eletrocutar um criminoso. Educá-lo é mais difícil, mais trabalhoso, demanda esforço, tempo, saber e caridade. Por isso, o Estado manda os criminosos à forca e as religiões remetem os pecadores, que não são da sua grei , para o inferno. Mas, se aquele é o único processo eficaz, procuremos empregá-lo, e não este, anticientífico, imoral e cruel.
A educação vence e previne o mal. O homem educado conhece o senso da vida, age conscienciosamente com critério, com discernimento: é um valor social. É pela educação que se hão de vencer os vícios repugnantes (haverá algum que o não seja? ), que se hão de domar as paixões tumultuárias que obliteram a inteligência e a razão. E, de tal modo, sanear-se-á a sociedade. (grifo do preparador)


As penas, inclusive a de morte

Nazareno Tourinho, por duas vezes, publicou no reformador observações sobre as penas que devem passar os criminosos, pela visão terrena, e porque o espírita não pode se aliar à idéia da pena de morte.
De plano afasta o “olho por olho, dente por dente”, já que é necessário respeitar os fatores e circunstâncias atenuantes ao delito. Por outro lado, argumenta que é obrigação do Estado proteger a sociedade e que a prisão perpétua, se cumprida, já é uma pena bastante rigorosa.
Com a morte por sentença, interrompe-se o plano de vida traçado pela espiritualidade e evita que o acusado tenha, ainda naquela encarnação, a chance do arrependimento e a infalível cobrança de sua consciência.
Por outro lado não se têm como esquecer fatos históricos de inúmeros inocentes condenados e executados, e que as leis que determinam tais mortes são feitas pelo homem e levam em conta questões religiosas, políticas, econômicas, entre outras.


Conclusão

O ser humano foi criado por Deus para fazer brilhar a Sua Luz, nós temos que ter como objetivo nos tornar Espíritos de Luz, e a primeira iniciativa é que nos desfaçamos das paixões e dos vínculos à matéria. Esse um caminho difícil, tendo em vista nossa imperfeição, mas o combate à violência, principalmente à que nos move, já é um grande passo.
Nossa missão é melhorar o mundo através da Lei Natural, o amor, sem regras ou condições, quando isso for possível, os seres humanos terão um só comportamento, ajudando-se mutuamente, afastando qualquer estado bélico ou agressivo.
O pensamento terá de ser harmônico, tendo Jesus e seus ensinamentos como meta, não afastando a firme convicção na imortalidade da alma e da justiça divina, sabendo que a fraternidade, o perdão e a caridade em relação ao próximo são fundamentais para tal objetivo.
Rezemos sempre para que nossos governantes não se esqueçam dos programas de educação e saúde, o saneamento, o trabalho digno, sem explorações, aperfeiçoando as crianças para evitar a perversidade futura.
O mal é a ausência do bem, cultivemos a paz em nossos corações para derrotarmos a violência e a maldade, e que Deus nos proteja nessa fase de transição.

Bibliografia e citações:

Documento remetido pelo tribuno e médium Divaldo Pereira Franco ao Secretário Geral do Encontro de Cúpula Mundial de Líderes Religiosos e Espirituais pela Paz Mundial.
Livro Violências, Pena de Morte e outros Dramas
Celso Martins, Ivan René Franzolim, Deolindo Amorim (espírito), entre outros.
J. Herculano Pires – Agonia das Religiões - Paidéia
Umberto Ferreira - Revista Espírita Allan Kardec, nº 39.
Pedro de Camargo (Vinícius) - em O Mestre na Educação. FEB
Amílcar Del Chiaro Filho – Jornal Verdade e Luz – julho de 2000
Bismael B. Moraes, livro Pena de Morte & Cremação Numa Visão Espírita (Dados Históricos, Procedimentos Legais - Normas, Requisitos e Objeções).
Nazareno Tourinho - Reformador dezembro de 1959 e junho 1993.
O Evangelho Segundo Espiritismo e o Livro dos Espíritos, por Allan Kardec, em suas partes mencionadas no corpo do trabalho.

Nenhum comentário: