sábado, 28 de novembro de 2009

SOBRE OS FENÔMENOS...

O maravilhoso e a moderna psicologia

Cairbar Schutel

Publicado na RIE em julho de 1925

O caráter sobrenatural atribuído aos fenômenos psíquicos tem perturbado os pensadores de todos os tempos. Na sua história aparecem as lendas, os encantamentos, os contos de fadas e até sobre ela se assentam os taumaturgos e pseudotaumaturgos de todas as épocas, e os dogmas das religiões sectárias.
O maravilhoso, em sua simples expressão, nada mais é que o transcendentalismo psíquico; a sua origem desaparece na noite das primeiras idades.
As explicações que têm revestido o maravilhoso demonstram muito bem a deficiência do ensino da antiga psicologia, cujo estudo só era facultado na antiguidade a um insignificante número de indivíduos e isso mesmo mediante provas duras de suportar e com a condição de absoluto segredo.
Essa “iniciação”, como chamavam-na, se fazia nos templos e constituía na aprendizagem dos “mistérios”, a apelidada parte esotérica, isto é, a parte dos conhecimentos que se não deviam revelar.
O programa dos ensinos compreendia, no seu estreito limite, as ciências naturais, que abrangiam a alquimia, a magia, o feiticismo, a teurgia (medicina oculta); as ciências abstratas: estudos dos números e dos símbolos; ciências filosóficas: cabala, mitologia; e as chamadas ciências derivadas: artes divinatórias, astrologia, cartomancia (adivinhação pelas cartas), quiromancia (pelas linhas da mão), hidromancia (pela água), ofiomancia (pelas serpentes), lampadomancia (pela chama da lâmpada), catoptromancia (pelo espelho), oneiromancia (pelos sonhos), etc, etc.
Fora dos templos o maravilhoso era cultivado, mas com absoluta reserva devido às leis proibitivas, cuja infração era muitas vezes reparada com a vida.
O terror unido à curiosidade do ignoto atraía as gentes, pelo que se vê nas práticas extravagantes, e o temor-culto do perigo que as forças ocultas pudessem ocasionar às massas deram lugar a leis bárbaras e a constantes perseguições que sofreram os povos de então.
É fácil, pelo exposto, se conceber o nascimento das teorias preconcebidas que, mal estudados os seus fatos, originaram a criação das múltiplas escolas que se mantêm até hoje, entravando os seus diretores a marcha ascensional dos espíritos para a verdade.
Não há dúvida que a preocupação máxima dos gênios era a resolução do problema da existência que deveria se tornar conhecida de todos. Mas em resposta a essa necessidade imperiosa surgiram hipóteses que obscureceram o pensamento dos Mestres, permanecendo pela influência do número que a elas se aliavam.
As escolas surgidas no oriente como no ocidente, emergentes da evolução progressiva da consciência, não fizeram mais do que voltar as suas vistas para o desconhecido e o oculto em virtude mesmo de suscitar esse oculto desconhecido, adeptos e entusiastas.
Debalde os gênios retomavam e seguiam a perturbadora esfinge do maravilhoso que lhes convidava à explicação dos fatos persistentes que requeriam, sem dúvida, uma pesquisa criteriosa e inteligente para a solução do terrível problema, do qual sempre se afastavam às repulsas enervantes do dogma abroquelador e persistente.
Desde Hermes Trimegista, de quem fala José Balsamo, como fundador da escola iniciática do Egito, conforme se nota de sua síntese filosófica exarada na Tábua de Esmeralda, todos os ensinos sobre o maravilhoso não passam de obscuros e problemáticos, que poderiam ser aceitos como artigos de fé, mas nunca como produtos da pesquisa exigente e consciente, do livre exame, de um raciocínio coerente com os fatos e teoria que deles ressalta.
Sejam os mistérios de Ísis, de Mitra, de Delfos, ou o gnosticismo de Simão, o Mago, cujas maravilhas sedutoras foram verberadas por S. Pedro, visto o mau patrimônio onde eram recolhidas, mas que, apesar disso, deram ensejo ao erguimento, em Tiro, de uma escola, onde afluía grande número de prosélitos; seja a demonologia da Idade Média, extensiva aos nossos dias, que desnaturando os fatos inutiliza o método experimental da existência e sobrevivência da alma; sejam as concepções búdicas desnaturadas que deram lugar à criação dos vampiros, dos íncubos, dos súcubos; todas as explicações religiosas só serviram para obscurecer e fanatizar os espíritos.
Enfim, o mundo oculto ou antes os transcendentais fenômenos psíquicos, que se salientam na história de todos os povos, são mais complexos do que aparentam, deixando ver bem claro a ignorância que os homens mantinham de suas causas antes da alvorada espírita iluminar os horizontes do nosso planeta.

* * * *

Só depois do aparecimento dos Princípios Kardecistas, que constituem as obras basilares da Moderna Psicologia, que foi proclamado o estudo experimental do homem na sua tríplice manifestação de Vida — vegetativa, moral e espiritual.
Atirado aos ventos da publicidade “O LIVRO DOS ESPÍRITOS”, apareceu a solução da misteriosa equação que constituía a esfinge admirada pelos povos de então.
Os fenômenos psíquicos, deturpados em sua explicação causal por uns e que pareciam, para outros, produtos da superstição e do fanatismo, apareceram em seu conjunto maravilhoso como sólidos alicerces de uma Ciência, cujo fim é a demonstração experimental da existência da alma e sua imortalidade, por meio de comunicações com aqueles que impropriamente se têm chamado os mortos.
De fato, esses fenômenos que remontam, como dissemos, às tradições dos mais antigos povos, nunca mereceram uma observação sistematizada, fria, analítica que lhes tirasse da região da lenda para o domínio da experimentação científica. Essa foi a tarefa de Allan Kardec que, fazendo uma coordenação lógica de todos os fatos até então dispersos desordenadamente através do passado, de acordo com os que se iam verificando, permitiu observá-los em seu conjunto, como em cada uma das suas partes, oferecendo assim aos experimentadores uma orientação justificada no livre exame, na observação direta para a dedução das considerações doutrinais que decorrem de tais fenômenos. E de todo esse conjunto maravilhoso de fatos, cujos relatos, de decisivas experiências, enchem os anais da Moderna Psicologia, numa raciocinada exegese, aparece a prova positiva e incontestável da Imortalidade, que é o princípio básico, fundamental do Espiritismo.

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