domingo, 23 de março de 2008

“NÃO BASTA QUE EU SEJA ESPÍRITA..."

“Não basta que eu seja espírita .Tenho que parecer espírita”


Marco Aurélio Faria Rezende


"Bem-aventurados os que choram,pois que serão
consolados.Bem-aventurados os famintos
e os sequiosos de justiça ,pois
que serão saciados . Bem-aventurados os
que sofrem perseguição pela justiça , pois que é
deles o reino dos céus.”
(Mateus ,cap. V , vv.5,6 e 10)



Uma das práticas mais sadias que adquiri desde que venho me assumindo espírita cristão é a do estudo do Evangelho em casa com os meus familiares. Primeiramente , quero registrar que não vem sendo muito fácil reunir todas as pessoas da casa – alguns não participam por opção,outros já participaram , estando agora fora e atualmente compomos o nosso pequeno grupo de três encarnados , o que convenhamos , no nosso caso é muita gente , pois houve ocasião em que me reunia apenas com as minhas cadelinhas. Mas não é sobre a disposição dos meus familiares que quero refletir e sim do que estamos estudando nos últimos encontros . Ao invés de abrir ao acaso , preferimos estudar o Evangelho de forma seqüencial e , já há algumas semanas estamos estudando os capítulos que falam das bem-aventuranças . Muito já se falou e escreveu sobre o Sermão do Cristo e portanto não tenho nenhuma pretensão de deitar falação sobre qualquer das partes dessa maravilhosa herança que recebemos . Mas , quero dividir com os meus companheiros esse aspecto bem peculiar do Sermão do Nosso Mestre. Se concordamos que somos herdeiros desse legado divino , somos também responsáveis em trazê-lo para o nosso dia-a-dia , em cada oportunidade que tivermos para praticá-lo. Mais ainda , se estamos tendo essa oportunidade ao longo das muitas encarnações que tivemos , precisamos parar para pensar exatamente sobre esse aspecto. Ou será que achamos que poderemos continuar a (re) encarnar eternamente sem nenhuma necessidade de refletir sobre a questão? Afinal , se já compreendemos que o céu colocado no Sermão é alegórico , se cremos verdadeiramente que a conquista das bem-aventuranças tem exclusivamente a ver com a nossa disposição para alcançá-las ,podemos concluir que é a nossa transformação que nos levará a esse caminho .
Assim , é exatamente por isso que venho acreditando cada vez mais no Sermão do Cristo como o Caminho das Pedras para a nossa tão falada reforma moral. Falamos muito e trabalhamos tão pouco para alcançá-la. Estou falando verdadeiramente . Não vale pensar só no trabalho que realizamos na Casa Espírita . Devemos lembrar que estamos ali pela misericórdia do Nosso Pai e somos os maiores beneficiários dessa nossa ação. Acredito verdadeiramente que é a nossa atitude que nos faz sujeitos da nossa intenção .Por isso vamos falar nas nossas atitudes. Vamos,por exemplo, pensar nos motivos das nossas aflições . Mas , pensemos nas nossas , como as de todos e não somente nas nossas como a minha ou a sua. Será que ainda olhamos com um olhar diferenciado para os nossos irmãos – familiares , amigos , vizinhos e inimigos ? Se ainda não é assim , vejamos. O nosso cuidado e a nossa atenção já são verdadeiramente (?) espíritas quando nos deparamos com as aflições alheias e fazemos clara e calmamente uma imediata correlação com possíveis faltas ou falhas pretéritas ou atuais , mas quando precisamos exercitar em nós a aceitação e a resignação , achamos que não merecemos esse rigor da parte de Nosso Pai . Compreendemos bem, que os nossos irmãos são os únicos responsáveis pelos seus infortúnios , pelas suas desgraças , pelos excessos , pelas vaidades , pela infelicidade familiar , por fraquezas , pelo egoísmo , etc e até por doenças graves . Mas será que são só eles? Será que já praticamos esse entendimento em nós? Ou será que já estamos nos percebendo como seres angélicos? Falamos com tanta clareza e a toda hora que vivemos num mundo de prova e expiação e , no entanto , já somos pretensiosos em nos achar os primeiros escolhidos da Criação Divina para a próxima era planetária. É , somos e nos achamos os máximos .Todos nós. Mas , no entanto esquecemos que a expiação que ainda é comum a todos nós , serve sempre de prova, mas nem sempre a prova é uma expiação . Está no Evangelho . E , no nosso caso serve para nos esclarecer que todos nós estamos na mesma condição evolutiva. Nenhum de nós está em posição de destaque .Muitos de nós , que nos julgamos o máximo , estamos em oportunidade compulsória .
A Bondade Divina está a todo o momento nos orientando para o caminho de volta que empreendemos para a nossa verdadeira casa – a Casa do Pai e tem nos favorecido com o livre-arbítrio , o esquecimento de faltas e dívidas e o consolo das nossas dores. E nós, do alto (?) da nossa condição evolutiva já fazemos assim também com todos os nossos irmãos? Se recebemos de Nosso Pai , a força para a nossa própria melhora ,para o alcance do nosso resgate , porque não podemos fazer também dessa forma com os nossos desafetos?Afinal , se já começamos a nossa transformação , e recebemos todo o estímulo mesmo quando ainda erramos , porque não podemos começar a pensar em fazer o mesmo no nosso dia-a-dia? Afinal , se somos firmes e perseveramos , se alimentamos verdadeiramente a nossa crença e a nossa fé no Nosso Pai , porque não acreditamos também no nosso irmão , independente da sua condição ou vínculo junto a nós?Se nós , quando rogamos pela Providencia Divina , justificamos as nossas falhas e erros pela nossa condição de eternos endividados , porque não consideramos essa mesma condição dos nossos irmãos quando o julgamos e criticamos?Será que estamos exercitando a nossa tolerância? Na verdade , a nossa condição ainda nos impede de ver o outro com o olhar que pedimos ao Nosso Pai que nos ampare. Ainda falta muito, mas temos clareza que precisamos verdadeiramente recomeçar a nossa caminhada.
Para isso , é imperioso que testemos a nossa humildade e o nosso orgulho .Em muitas ocasiões , durante o convívio necessário a nós,somos colocados em prova nessas virtudes. Nesta hora , podemos lembrar , muito a contragosto , das inúmeras situações em que já nos colocamos em posição e condição superior a muito(s) de nosso(s) irmão(s). E mais , em muitas dessas situações acabamos por justificar , quase que naturalmente essa nossa postura tomando por base a nossa vantagem em um ou mais atributos que temos em relação ao(s) outro(s) . Nos dias de hoje , penso eu , se ainda temos essa atitude , rapidamente repensamos a nossa postura porque já começamos a compreender que não temos nem possuímos nenhuma vantagem com relação ao(s) nosso(s) irmão(s) e que a verdadeira riqueza - a que podemos entesourar e que não se perde nunca , cabe no nosso coração. Mas é sempre bom lembrar que já fomos duros e brutos , que a nossa preocupação guardava uma direta relação com a nossa incapacidade de perceber o(s) outros(s) como iguais. Já valorizamos muito a riqueza material , já sentimos muita alegria e orgulho da nossa capacidade de ter em detrimento da nossa possibilidade de ser . Hoje , já começamos a despertar e entendemos que a outra possibilidade - a da generosidade , é mais prazerosa e nos sustentará na caminhada da volta.
É certo que já constatamos que precisamos ultrapassar da condição de espíritas em uma casa espírita para sermos espíritas atuantes . Precisamos parecer espíritas . Precisamos ter atitude espírita. Precisamos utilizar essa nossa condição para o nosso bem e para o bem de todos que nos cercam e que se aproximam de nós. Penso , sem nenhuma atitude piegas , que esse é o nosso verdadeiro propósito daqui para frente . Ou seja , compreendo que ainda precisamos melhorar muito , mas vejo que será assim , nesse exercício de muitos acertos e erros que estaremos colocando a nossa capacidade de cair , mais que levantar ,de perdoar mais que ser perdoado , de ajudar mais que ser ajudado e de fazer mais que cobrar , a serviço da nossa redenção. Acredito também que temos em nós, guardado no fundo as nossas melhores possibilidades. O Evangelho do Cristo nos instrui muito claramente acerca delas : temos que ser puros e simples de coração. E nos alerta da nossa condição de crianças espirituais .É dessa forma que começaremos a resgatar o nosso melhor para assim dividi-lo com o(s) nosso(s) irmão(s) . É assim que deixaremos a nossa condição de transgressores por pensamentos , palavras e atos para experimentarmos a pureza e a simplicidade nas nossas atitudes e no nosso coração. Aprenderemos e valorizaremos muito mais a possibilidade de encontrar em nós mesmos a resposta para as nossas angústias e apreensões e deixaremos de lado a busca externa que fazemos ao Nosso Pai porque o encontraremos dentro de nós .Por enquanto , ainda sentimos essa possibilidade muito distante de nós, mas já identificamos a imperiosa obrigação de nos prepararmos para ir ao seu encontro . Já deixamos muito tempo de lado . Precisaremos fazer mais uso de novas virtudes . Teremos a brandura , a moderação , a afabilidade e a paciência para balizarmos as nossas relações. O nosso ouvir vai estar carregado de comoção . O nosso olhar vai estar impregnado de doçura. As nossas atitudes não terão mais nenhuma violência e não sentiremos nenhuma vontade de explorar o nosso irmão, nem sofreremos por nenhuma injustiça . Aprenderemos a viver no Bem, porque já estaremos cultivando o Bem há muito tempo entre nós . Para tal , precisamos começar agora , já , a responder sempre com o Bem e a desejar sempre o Bem a todo(s) o(s) nosso(s) irmão(s).
Por isso , precisamos começar a praticar mais e melhor atitudes mais positivas . Precisamos (re) aprender a exercitar o perdão e a ter grandeza em nossas ações . Avançaremos no nosso propósito na medida em que começarmos a deixar de lado atitudes mesquinhas carregadas de ego , vaidade e orgulho ferido e trabalharemos em nós a única forma de perdoar – a incondicional. Seremos grandes , nobres e generosos porque seremos humildes . É necessário que (re) iniciemos o nosso caminho sendo mais indulgentes com o(s) nosso(s) irmão(s) , olhando-o(s) mais fraternalmente, deixando que a compaixão e a beneficência inspirem os nossos pensamentos e o nosso coração . Assim , estaremos verdadeiramente sendo mais caridosos com os que nos cercam e procuram e estabeleceremos uma ligação mais profunda com cada um baseada no verdadeiro amor que respeita , cuida , ampara e não cobra. Aprenderemos que quanto mais pensarmos e agirmos assim , mais estaremos atraindo para nós boas vibrações e elevaremos cada vez mais a nossa sintonia.
O Evangelho nos aponta que precisaremos praticar a caridade , tê-la no coração e reparti-la com o próximo , como a fazemos conosco para então podermos dizer que amamos a Deus , o Nosso Pai . Acreditaremos que isso é verdadeiramente possível porque estaremos verdadeiramente comprometidos com essa tarefa – a do nosso progresso ,do progresso do(s) nosso(s) irmão(s) e de todo o planeta . Nós , se pensarmos e agirmos como verdadeiros espíritas , passaremos a incorporar naturalmente no nosso dia-a-dia esses ideais de justiça e renovação ,porque acreditaremos que os mesmos guardam a natureza divina adormecida em nós. Então , passaremos ao entendimento universal ,destruindo as últimas sementes de injustiça , discórdia e desunião . Construiremos , a partir daí uma nova ordem social que estará alicerçada na indulgência , no respeito , na união , e na harmonia geral entre todos nós .
Ao terminar a minha reflexão , penso que a nossa transformação nos levará naturalmente ao encontro da probidade e da igualdade . A nossa defesa se levantará a favor da prática desinteressada da fraternidade , da esperança e da paz . A nossa nova e verdadeira condição nos colocará com sujeitos atuantes e semeadores do Bem pelo Bem . Responderemos - junto com muitos outros , pelo estado renovado das coisas , porque teremos contribuído com o(s) nossos suores e trabalho para tal alcance. Todos nós seremos chamados ditosos , porque trabalhamos no campo sagrado de Nosso Pai . E todos nós , colheremos o produto dos nossos esforços e o colocaremos no banquete preparado pelo Nosso Pai e o compartilharemos entre todos. O Espírito de Verdade nos lembra que é chegada a hora em que Nosso Pai , procede à identificação dos seus servidores mais fiéis , marcando a cada um com o dedo e separando aqueles cujo devotamento é apenas aparente dos mais animosos e ao final cumprir-se-ão estas palavras : “Os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros no reino dos céus.” Então , a escolha é nossa . Arregacemos as nossas mãos e vamos (re) começar o trabalho...

mafr.

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