terça-feira, 18 de março de 2008

ESPIRITISMO E RELIGIÃO

O Espiritismo é uma Religião?

Religião é o culto prestado às divindades e os deveres dos crentes para com elas.

A elas estão associados elementos essenciais, que não fazem parte da doutrina espírita, como os exemplos abaixo indicados:

O espiritismo não tem estrutura hierárquica, nem clerical;
Não tem sacerdotes, nem chefes religiosos;
Não tem templos sumptuosos;
Não adopta cerimónias de espécie alguma;
Não tem rituais;
Não usa vestes especiais;
Não tem qualquer simbologia;
Não utiliza ornamentações associadas a práticas exteriores;
Não tem gestos de reverência, sinais cabalísticos, benzeduras...
Não tem talismãs, defumadouros;
Não usa cânticos nem danças cerimoniosas,
Não utiliza bebidas, oferendas...
Não tem dogmas indiscutíveis;
Não fazem parte do seu vocabulário as palavras - misticismo, sobrenatural, milagre...

(...)

Algumas razões pelas quais o espiritismo vem sendo confundido sendo designado por alguns dos seus adeptos como mais uma religião:

Ignorância nesta matéria;
Desconhecimento doutrinário;
Hábitos pretéritos, enraizados no ser;
Movimentos espíritas internacionais e locais, que adoptaram o termo religião e que, por desconhecimento, são tidos como exemplo/modelo;
A fonte moral sendo Jesus, é indevidamente associada às religiões...

O espiritismo, não diz que fora dele não encontremos a salvação. Afirma sim e faz dessa máxima sua divisa: fora da caridade não há salvação.
Portanto não se encontra na doutrina espírita o proselitismo das religiões e a ânsia na obtenção de adeptos. O respeito para com todas as práticas religiosas é uma característica do espírita.

O Espírito da Verdade avança com outra máxima: Espíritas: amai-vos, espíritas instruí-vos, sublinhando desta forma e mais uma vez as fortes vertentes morais e culturais da doutrina espírita.

Depois deste breve estudo, a doutrina espírita pode ser apreendida na sua verdadeira essência, como uma doutrina de aperfeiçoamento moral, ética - ciência do bem -, do comportamento e do procedimento, decorrente ou consequência da sua filosofia de vida, solidamente apoiada na sua base científica.

Allan Kardec, o codificador, prevendo os rumos a que o movimento tenderia no futuro, profere um discurso com um belo texto, na abertura da Sessão Anual Comemorativa dos Mortos, da Sociedade Espírita de Paris, no dia 1 de Novembro de 1868. A seguir e em jeito de conclusão desta matéria, transcrevemos partes desse elucidativo e eloquente discurso:

"Todas as reuniões religiosas, seja qual for o culto a que pertençam, são fundadas na comunhão de pensamentos; é aí, com efeito, que esta deve exercer toda a sua força porque o objectivo deve ser o desprendimento do pensamento das garras da matéria. Infelizmente, na sua maioria, afastam-se desse princípio, à medida que faziam da religião uma questão de forma."

(...)

"O isolamento religioso, como o isolamento social, conduz o homem ao egoísmo."

(...)

"Religião, é um laço que religa os homens numa comunidade de sentimentos, de princípios e de crenças."
(...)
"O laço estabelecido por uma religião, seja qual for o seu objectivo, é, pois, um laço essencialmente moral, que liga os corações, que identifica os pensamentos, as aspirações e não somente o facto de compromissos materiais, que se rompem, à vontade, ou da realização de fórmulas que falam mais aos olhos do que ao espírito. O efeito desse laço moral é o de estabelecer entre os que ele une, como consequência da comunidade de vistas e de sentimentos, a fraternidade e a solidariedade, a indulgência e a benevolência mútuas." Se assim é perguntarão: o espiritismo é uma religião?"

(...)

"Ora sim, sem dúvida, senhores. No sentido filosófico, o espiritismo é uma religião, e nós glorificamos por isto, porque é a doutrina que funda os elos da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre bases mais sólidas: as mesmas leis da natureza."

(...)

"Por que, então, declaramos que o espiritismo não é uma religião?"

(...)

"Porque não há uma palavra para exprimir duas ideias diferentes, e que, na opinião geral, a palavra religião é inseparável de culto; desperta exclusivamente uma ideia de forma, que o espiritismo não tem. Se o espiritismo se dissesse uma religião, o público não veria aí senão uma nova edição, uma variante, se quiser, dos princípios absolutos em matéria de fé; uma casta sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, de cerimónias e de privilégios; não o separaria das ideias de misticismo e dos abusos contra os quais tantas vezes se levantou a opinião pública."

(...)

"Não tendo o espiritismo nenhum dos caracteres de uma religião, na acepção usual do vocábulo, não podia nem devia enfeitar-se com um título sobre cujo valor inevitavelmente se teria equivocado. Eis porque simplesmente se diz: doutrina filosófica e moral..."

Kardec, no livro "O que é o espiritismo" define espiritismo assim: "O espiritismo é ao mesmo tempo uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática, ele consiste nas relações que se podem estabelecer com os espíritos; como filosofia, ele compreende todas as consequências morais que decorrem dessas relações."

É evidente que o significado do vocábulo - religião -, na sua origem, serviria para codificar a nossa ideia (mental) de espiritismo. Mas a linguagem constitui um movimento vivo e, ao longo da história, os diversos vocábulos vão adquirindo uma carga que lhe vai modificando o seu significado original. Assim, às religiões, como atrás foi apresentado, estão agora, associadas variadas práticas e elementos essenciais que não se encontram no espiritismo, pelo que afasta qualquer hipótese de o catalogarmos como mais uma religião.

O assunto tratado, deverá servir não para desunir os espíritas em discussões inúteis ou para debates injustificáveis, mas para situar o espiritismo no contexto universal das ideologias, que vão interpretando a vida.

Retirado do Curso básico de Espiritismo da Associação de Divulgadores do Espiritismo de Portugal - 3.º Caderno - O ESPIRITISMO E AS RELIGIÕES

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