sábado, 25 de abril de 2009

SÉRIE PRA PENSAR...

Necessário e
Supérfluo


715. Como pode o homem conhecer o limite do necessário?

“Aquele que é ponderado o conhece por intuição. Muitos só chegam a conhecê-lo por experiência e à sua própria custa.”

716. Mediante a organização que nos deu, não traçou a Natureza o limite das nossas necessidades?

“Sem dúvida, mas o homem é insaciável. Por meio da organização que lhe deu, a Natureza lhe traçou o limite das necessidades; porém, os vícios lhe alteraram a constituição e lhe criaram necessidades que não são reais.”

717. Que se há de pensar dos que açambarcam os bens da Terra para se proporcionarem o supérfluo, com prejuízo daqueles a quem falta o necessário?

“Olvidam a lei de Deus e terão que responder pela privações que houverem causado aos outros.”

Nada tem de absoluto o limite entre o necessário e o supérfluo. A Civilização criou necessidades que o selvagem desconhece e os Espíritos que ditaram os preceitos acima não pretendem que o homem civilizado deva viver como o selvagem. Tudo é relativo, cabendo à razão regrar as coisas. A Civilização desenvolve o senso moral e, ao mesmo tempo, o sentimento de caridade, que leva os homens a se prestarem mútuo apoio. Os que vivem à custa das privações dos outros exploram, em seu proveito, os benefícios da Civilização. Desta têm apenas o verniz, como muitos há que da religião só têm a máscara.

Resumo

O homem ponderado conhece o limite do necessário por intuição, mas muitos só chegam a conhecê-lo por experiência e à sua própria custa. Sendo insaciável, os vícios lhe alteram a constituição e criam necessidades que não são reais. Os que açambarcam os bens da Terra para se proporcionarem o supérfluo, com prejuízo daqueles a quem falta o necessário, olvidam a lei de Deus e terão que responder pelas privações que houverem causado aos outros.

Comentários

Grande parte dos sofrimentos que experimentamos advém não da falta do necessário, mas porque nos lamentamos de não possuir o supérfluo. Compreender a diferença entre o que é necessário e o que é supérfluo não é matéria exclusiva dos compêndios espíritas. Leiam a respeito algumas citações de autorias variadas:

“Compra não o que consideras oportuno, mas o que te falta; o supérfluo é caro, mesmo que custe apenas um soldo.” (Catão, Citado em Sêneca, Cartas a Lucílio)

“A utilidade mede a necessidade: e como avalias o supérfluo?” (Sêneca)

“Os bens supérfluos tornam a vida supérflua.” (Píer Pasolini, Scritti Corsari)

“Sabei escusar o supérfluo, e não vos faltará o necessário.” (Marquês de Maricá, Máximas)

“Todo o Mal Provém não da Privação, mas do Supérfluo.” (Fernando Namora)

“A economia significa o poder de repelir o supérfluo no presente, com o fim de assegurar um bem futuro e sobre este aspecto representa o domínio da razão sobre o instinto animal.” (Thomas Atkinson)

“O supérfluo, com o tempo, torna-se numa coisa muito necessária.” (George Buffon)

“A lei seca da arte é esta: 'Ne quid nimis', nada além do necessário. Tudo o que é supérfluo, tudo aquilo que podemos suprimir sem alterar a essência é contrário à existência da beleza.” (Ortega y Gasset)

“A sabedoria da natureza é tal que não produz nada de supérfluo ou inútil.” (Copérnico)

Voltando ao aspecto espírita de nosso estudo, acrescentamos dois textos de Emmanuel a respeito do necessário e do supérfluo:

Supérfluo

Por toda parte na Terra, vemos o fantasma do supérfluo enterrando a alma do homem no sepulcro da provação.

Supérfluo de posses estendendo a ambição…

Supérfluo de dinheiro gerando intranqüilidade…

Supérfluo de preocupações imaginárias abafando a harmonia…

Supérfluo de indagações empanando a fé…

Supérfluo de convenções expulsando a caridade…

Supérfluo de palavras destruindo o tempo…

Supérfluo de conflitos mentais determinando o desequilíbrio…

Supérfluo de alimentação aniquilando a saúde…

Supérfluo de reclamações arrasando o trabalho…

No entanto, se o homem vivesse de acordo com as próprias necessidades, sem exigir o que ainda não merece, sem esperar o que não lhe cabe, sem perguntar fora do propósito e sem reprovar nos outros aquilo que ainda não retificou em si mesmo, decerto a existência na Terra estaria exonerada da grande maioria dos tributos que aí se pagam quase diariamente à perturbação.

Se procuras no Cristo o mentor de cada dia, soma as tuas possibilidades no bem, subtrai as próprias deficiências, multiplica os valores do próprio serviço e divide o amor para com todos, a fim de que os que te cercam aprendam com a vida o que convém realmente à própria segurança.

O problema da felicidade não está em sermos possuídos pelas posses humanas, quaisquer que elas sejam, mas em possuí-las, com prudência e serenidade, usando-as no bem para os semelhantes, que resultará sempre em nosso próprio benefício.

Alija o supérfluo de teu caminho e acomoda-te com o necessário à tua paz. Somente assim encontrarás em ti mesmo o espaço mental indispensável à comunhão clara e simples com o nosso Divino Mestre e Senhor. (Do livro Plantão da Paz, Cap. 12, psicografia de Francisco Cândido Xavier)

No bem de todos

“Sejam vossos costumes sem avareza, contentando-vos com o que tendes, porque ele disse: não te deixarei, nem te desampararei.” — PAULO (Hebreus, 13.5).

Encarna-se e reencarna-se o Espírito na Terra, a fim de aperfeiçoar-se no rumo das Estâncias Superiores do Universo.

Não te encarceres, assim, nos tormentos do supérfluo que a avareza retém, como sendo recurso indispensável à vida, na cegueira com que inventa fantasiosas necessidades.

O dono do pomar não comerá dos frutos senão a quota compatível com os recursos do estômago.

O atacadista de algodão vestirá uma camisa de cada vez.

Entretanto, o cultivador e o negociante serão abençoados nos Céus se libertam os valores que administram, em louvor do trabalho que dignifica, da educação que eleva, da beneficência que restaura ou da fraternidade que sublima.

Atendamos aos deveres que as circunstâncias nos atribuem, acalentando ideais de melhoria, mas aprendamos a contentar-nos com o que temos, sem ambicionar o que não possuímos, em matéria de aquisições passageiras, a fim de conquistarmos, sem atritos desnecessários, os talentos que nos faltam.

Ainda não se viu homem no mundo, cercado de tesouros infrutíferos, que se livrasse, tão-somente por isso, das leis que regem o sofrimento e a enfermidade, a velhice e a morte.

Respeitemos os princípios divinos do bem para todos.

Confiemos, trabalhando.

Caminhemos, servindo.

“Não te deixarei, nem te desampararei”— disse-nos o Senhor.

Sim, o Senhor jamais nos deixará, nem nos desamparará, mas, se não queremos experiências dolorosas, espera naturalmente que não nos releguemos à ilusão, nem lhe desprezemos a companhia. (Do livro Palavras de vida eterna, cap. 142, psicografia de Francisco Cândido Xavier)

Aos que quiserem aprofundar um pouco mais sobre esse assunto:

SOUZA, Juvanir Borges de. Tempo de transição. 3 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. Cap. 5 (Necessário e supérfluo), p. 50.

XAVIER, Francisco Cândido & VIEIRA, Waldo. O espírito da verdade. Por diversos Espíritos. 14. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003. Cap. 1 (Problemas do mundo - mensagem do Espírito Bezerra de Menezes), p. 15-16.

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