domingo, 15 de agosto de 2010

JORNAL PAMPULHA DE BELO HORIZONTE

Matéria de capa

Ciência investiga a cura espiritual


Há quase duas décadas, o campo científico vem se rendendo ao estudo da espiritualidade e das manifestações de fé
MARIANA LAGE , EM 14/08/2010.

Nos últimos anos, as pesquisas científicas que abordam a cura através da espiritualidade têm crescido exponencialmente. Nos Estados Unidos, o número de universidades que incluíam a espiritualidade em seus currículos acadêmicos era de cinco, em 1993. Sete anos depois, subiu para 65 instituições. Em 2004, 84 escolas médicas ofereciam disciplinas optativas ou obrigatórias.

No Brasil, o movimento das pesquisas em torno de saúde e espiritualidade teve grande participação da Associação Nacional de Médicos Espíritas (AME-Brasil), como é o caso de São Paulo e Minas Gerais.

As primeiras escolas a introduzir o tema como curso de extensão ou disciplina obrigatória foram a Universidade Santa Cecília (Santos-SP), em 2002, e a Universidade Federal do Ceará, em 2004. No ano seguinte, a escola de Medicina da UFMG criou uma disciplina optativa e o Núcleo de Estudos em Saúde, Ciência e Espiritualidade (Nasce).

O homeopata Andrei Moreira, presidente da AME-MG, explica que o médico espírita trabalha com uma abordagem mais integralista da saúde do paciente, tratando-o para além apenas do corpo material. "A gente valoriza a saúde, tanto do ponto de vista científico quanto da filosofia da doutrina espírita", expõe.

Ele destaca que as cirurgias espirituais com corte não são reconhecidas como fenômeno legítimo pela medicina tradicional. "A Associação Médico-Espírita não aprova as cirurgias com corte, pois em princípio, as cirurgias espirituais são feitas no perispírito com repercussão no corpo físico. Por isso, não têm necessidade de instrumento cirúrgico", pontua.

No núcleo de estudos, os professores Mauro Ivan Salgado e Gilson Freire vêm conduzindo pesquisas de campo e bibliográficas que ajudam a promover uma renovação da abordagem medicinal. "Por enquanto, ainda não existem conclusões do ponto de vista científico, mas pessoalmente acredito, sim, que seja possível uma intervenção do plano espiritual, como podemos verificar em inúmeros casos bem-sucedidos de pacientes que procuraram ajuda espiritual", comenta Gilson.

Menos remédio
Em São Paulo, o psiquiatra Sérgio Felipe de Oliveira, presidente da AME-SP, foi um dos responsáveis pela obrigatoriedade da disciplina no curso de medicina da USP. Na internet são abundantes as referências a pesquisas e entrevista do médico a respeito do assunto. Nelas, ele enfatiza as inúmeras evidências que faz com que a ciência se interesse pelo assunto. "Na minha clínica, observo que quem recebe atendimento médico e espiritual toma menos remédios e adere melhor ao tratamento em relação aos que só passam pela consulta", afirma.

A mudança de mentalidade foi fomentada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), quando, em 1998, ela propôs a emenda de sua Constituição que modificasse o conceito de saúde. Além de "bem-estar físico, mental e social" e "ausência de doença e enfermidades", a saúde deveria estar associada a "estado dinâmico de completo bem-estar físico, mental, espiritual e social".

Grandes nomes que abordam cientificamente a cura espiritual são, por exemplo, os prêmios Nobel Charles Richet e Alexander Aksakov, além dos médicos Christina Puchalski, fundadora do Instituto George Washington para Espiritualidade e Saúde, e Harold Koenig, diretor do Centro para o Estudo da Religião/Espiritualidade e Saúde da Universidade de Duke (EUA).

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