domingo, 2 de novembro de 2008

A derrota de Paes
Cora Rónai

Abrindo mão das próprias convicções (se é que um dia
as teve), aliando-se ao que há de mais podre no estado,
gastando rios de dinheiro, jogando sujo, usando
descaradamente a máquina estadual, federal e universal,
beneficiando-se até de um feriado mal intencionado, enfim,
com tudo isso, Eduardo Paes só conseguiu ganhar de Gabeira
por 50 mil míseros votos.

Como vitória política, já é um resultado extremamente
questionável; mas do ponto de vista pessoal, é uma derrota
acachapante.

Eduardo Paes levou a prefeitura, sim, mas de contrapeso
ficou com uma quadrilha de aliados que não deixa nada a
dever àquela que ele acusava o presidente Lula de comandar.


Vai ser prefeito, sim, mas vai ter de arranjar boquinhas
para o Crivella, para o Lupi, para o Piciani, para a
Clarissa Garotinho, para o Roberto Jefferson, para a
Carminha Jerominho, para o Babu, para o Dornelles, para a
Jandira... estou esquecendo alguém?

Conquistou um cargo, é verdade, mas conquistou também o
desprezo mais profundo de metade do eleitorado.

Em compensação, como carioca, perdeu a chance de viver um
momento histórico, em que a prefeitura seria, afinal,
ocupada por um homem de bem, com idéias novas e um novo
jeito de fazer política; perdeu a chance de ver o Rio de
Janeiro sair do limbo a que foi condenado nas últimas
décadas, e ganhar projeção pela singularidade da sua
administração.

Se Gabeira tivesse sido eleito prefeito, o Rio, que hoje
não significa nada em termos políticos, voltaria a ter
relevância, até pelo inusitado da coisa. Um prefeito
eleito na base do voluntariado, do entusiasmo dos eleitores
e da vontade coletiva de virar a mesa seria alguém em quem
o país seria obrigado a prestar atenção.

Agora, lá vamos nós para quatro anos de subserviente
nulidade, quatro anos em que o recado das urnas será
interpretado, pela corja que domina esta infeliz cidade,
como um retumbante 'Liberou geral!'

Nojo, nojo, nojo.

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