domingo, 10 de agosto de 2008

ESTÓRIAS DO CHICO....

CERTA VEZ...

Em meio à polêmica, o rapaz de Pedro Leopoldo ficava famoso e virava atração principal em sessões espíritas de outras cidades. Em 1936, enquanto Karloff provocava calafrios no filme 'O Morto Ambulante', ele roubava a cena na Sociedade de Matapsíquica de São Paulo. Na noite de 29 de março, colocou no papel uma mensagem assinada por Emmanuel, em inglês, e escrita de trás pra frente, em papel timbrado da entidade, previamente rubricado com duas assinaturas. A platéia só faltou aplaudir de pé e pedir bis. Após a exibição,foi convidado para um jantar na casa de uma 'socialite' espírita. A dona da casa tinha ímpetos de colocar o "embaixador" dos mortos numa de suas baixelas de prata. Diante dos talheres reluzentes e dos figurinos de gala, o rapaz enrubescia, engasgava. Nunca tinha visto tanta comida junta.Nem sabia por onde começar. Estava paralisado.De repente, saltou em direção à porta da cozinha e arrancou das mãos de uma jovem uma travessa repleta de arroz. A anfitriã chegou a tempo de evitar o pior. O rapaz estava contrariado. - A coitadinha é tão frágil. E nós aqui, à toa, vendo-a fazer tudo sozinha. Foi difícil convencer o matuto de que a coitada era empregada da casa e recebia um salário por aquele serviço. Só após certa disputa pela posse da bandeja, Chico se conformou e foi à mesa se servir. A dona da casa fez questão de acompanhar o 'tour' do pobrezinho em torno do bufê. - Isto é gostoso, meu filho. Coma, coma, coma um pouco mais. Com medo de fazer desfeita, o coitado engolia a miscelânea de carnes, massas, saladas. Sempre que levava à boca os últimos vestígios de comida,escutava a voz estridente ao seu lado: - Coma um pouco mais. O que é isso? Tão pouco... O prato se esvaziava e logo se enchia de novo. Chico sorria, agradecia,afrouxava o cinto, desabotoava o colarinho, respirava fundo. Quando chegou a sobremesa, sentiu vontade de chorar. A anfitriã cobriu seu prato de doces.Ele comeu. Ao sair, amparado por amigos, escutou o comentário sussurrado pela dona da casa a uma amiga: - Esse Chico é formidável, mas, puxa, como come!... Chico engoliria muito sapo até aprender a dizer 'não'. O aprendizado foi indigesto.

"As Vidas de Chico Xavier"- Marcel Souto Maior - Editora Rocco

Um comentário:

Marconi disse...

Esse livro tem excelentes histórias dele e eu não canso de ler e ouvir... Muito bom!
Abraços,
Marconi